Marcus Granadeiro (*)
Quando temos alguma doença e vamos buscar um médico ou um hospital, optamos sempre pelo melhor que podemos, não pelo mais barato.
Isso acontece porque temos entendimento sobre a consequência de um mal atendimento ou de um mal profissional. Quão mais grave a doença, maior nosso empenho na busca da excelência no atendimento. Este entendimento, no entanto, não existe quando o assunto é engenharia. Quando se fala em projetos, obras e principalmente em manutenção, tudo é custo. A busca sempre será orientada por menores custos e a qualidade parece algo supérfluo.
O problema é que a má engenharia, o projeto pobre, a obra mal gerenciada e a execução incompetente acabam custando mais e causando graves consequências. Quando este cenário é associado com uma má gestão, a bomba relógio está ativada. É isto que estamos vendo acontecer no Brasil em várias circunstâncias e, como último exemplo, podemos citar o problema que vimos em São Paulo que, com apenas uma noite de chuva intensa, foi registrado doze mortes e muitas perdas residenciais e comerciais.
Não é falta de tecnologia. O BIM (Building Information Modeling) e as diversas tecnologias relacionadas ao tema de cidades inteligentes, associadas com geoprocessamento, tem capacidade de prever e evitar tudo que estamos sofrendo. Não é falta de engenharia. Mesmo fazendo na “mão”, temos profissionais e conhecimento para resolver.
E não é falta de dinheiro, pois nada custaria mais caro do que todas as vidas perdidas e transtornos que estamos vivendo, além de todos os prejuízos sofridos em acidentes, enchentes e problemas com nossas infraestruturas. É falta de visão, o que endossa a necessidade de mudança de mentalidade. É necessário entender que a engenharia não se compra pelo preço, mas pela qualidade.
Entender que fazer bem não é fazer barato, mas fazer direito, e que não se deve improvisar ferramentas e recursos, mas usar os adequados. Vamos olhar os bons exemplos de fora, quão aparelhadas e quantos recursos têm as concessionárias, departamentos de infraestrutura e empresas de engenharia. Temos um desafio muito grande!
Nossas cidades têm uma infraestrutura caótica e pouca gestão entre os diversos players, mas com ajuste no modo de encarar e ver a engenharia, muito pode ser feito e em pouco tempo.
(*) – Engenheiro civil formado pela Poli/USP, é presidente do Construtivo, empresa de tecnologia com DNA de engenharia e membro da Autodesk Development Network e do Royal Institution of Chartered Surveyours (www.construtivo.com).