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Fome, para onde vamos?

em Artigos
segunda-feira, 28 de agosto de 2023

Ueliton Messias (*)

Fome é uma das coisas  mais sentidas, faladas  e/ou pensadas  na atualidade.

Contemporaneamente, associamos tal termo à segurança alimentar e nutricional (SAN), ou seja, garantia de acesso a alimentos de qualidade, em porções suficientes e de modo permanente atendendo às necessidades nutricionais.

O relatório “O Estado da Segurança Alimentar e Nutrição no Mundo”, publicado em julho de 2023 pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), apresenta traz alertas quanto aos indicadores de fome e insegurança alimentar no Brasil.

A fome global, medida pela prevalência de desnutrição permaneceu relativamente inalterada de 2021 a 2022, mas ainda está muito acima dos níveis anteriores à pandemia de COVID-19, afetando cerca de 9,2% da população mundial em 2022, em comparação com 7,9% em 2019.

A prevalência de insegurança alimentar moderada ou grave em nível global permaneceu inalterada pelo segundo ano consecutivo após aumentar acentuadamente de 2019 a 2020. Cerca de 29,6% da população global – 2,4 bilhões de pessoas – vivem em insegurança alimentar moderada ou grave em 2022, dos quais cerca de 900 milhões (11,3% das pessoas no mundo) estavam em situação de insegurança alimentar grave.

Durante palestra na III Conferência Municipal de Segurança Alimentar e Nutricional em Campinas ocorrida em 02/08/2023, a referência no assunto, José Graziano da Silva nos fez esta afirmação: ´´O único número aceitável para fome é o zero´´. No caso do Brasil, isso é mais relevante por sermos um dos maiores produtores de alimentos do mundo.

Do ponto de vista vegetal, as mensagens-chave do relatório da FAO apontam disponibilidade insuficiente de vegetais e frutas para atender às necessidades diárias de dietas saudáveis ​​para todos; o investimento público em pesquisa e desenvolvimento precisa ser aumentado para desenvolver tecnologias e inovações para ambientes alimentares mais saudáveis ​​e para aumentar a disponibilidade e acessibilidade de alimentos nutritivos. 

O Brasil, através da Embrapa, juntamente com o Sistema Nacional de Pesquisa Agropecuária, investe há anos em tecnologias que têm como fundamento principal a produção sustentável. Isso significa gerar alimentos seguros para a saúde humana, com respeito ao meio ambiente e possibilitando o crescimento da economia.

O Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea) lançou em 09/08/2023, o Documento Base da 6ª Conferência Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional a ser realizada em Brasília (DF), no período de 11 a 14 de dezembro de 2023.

Com o lema “Erradicar a fome e garantir direitos com comida de verdade, democracia e equidade”, o grande objetivo desta Conferência será atualizar a leitura de cenários, monitorar programas e ações, identificar potencialidades e desafios, apontar novos rumos para o futuro e definir propostas a serem encaminhadas ao governo para incidir na definição de uma nova geração de políticas públicas de SAN.

O pensador e ativista brasileiro do combate à fome, Josué de Castro, afirmou que ´´a fome é a expressão biológica de males sociológicos“. Para mitigar a afirmação de Josué de Castro a 6ª Conferência Nacional de SAN deve ser implacável com estruturas sociais que determinam que algumas vidas têm menos valor, que algumas pessoas têm menos direitos e menos oportunidades simplesmente por sua classe social, cor da pele, por serem mulheres, por serem LGBTQIA+, por serem pessoas com deficiência, por causa do lugar de nascimento ou outra condição que a vulnerabilize.   

(*) Doutor em Fisiologia Vegetal pela UNICAMP, é pesquisador da Embrapa e membro do Rotary Club de Jundiaí e da Associação Brasileira de Pesquisadores Negros.