Benedicto Ismael Camargo Dutra (*)
Como explicar a estagnação econômica do Brasil? A China e outros países aproveitaram condições mais favoráveis no câmbio e no custo de fabricação, tudo em favor das exportações.
No Brasil, muitos empresários se acomodaram na zona de conforto do conluio com o governo. Outro importante fator negativo é o descalabro nas contas públicas da União, estados e municípios, decorrente da má gestão pública por incompetência ou por más intenções, elevando o custo do dinheiro. Isso tudo evoluiu para a atual estagnação. O país tem de encarar os embaraços existentes com realismo.
Os três poderes se mantiveram acomodados, vivendo no país das maravilhas, enquanto as dificuldades iam crescendo. O atraso é grande e se nada for feito para reequilibrar a situação, o país tenderá ao atraso político-econômico semelhante ao dos países africanos. Mas a turma prefere brigar pelo poder. Juros altos atraem dólares valorizando o real e barateando importados. Foi bom enquanto durou. Não produzimos dólares, mas temos muitas contas na dita moeda.
Economistas experientes cobram mais efetividade do governo no combate à estagnação e na dinamização da atividade econômica, além das correções necessárias na previdência. Mas nas atuais condições de baixa renda e encalhe de manufaturados no mundo, resta saber onde os investidores poderiam alocar os seus recursos com sucesso. As organizações globais permitiram o desarranjo do parque industrial transferido para a região asiática em que há mão de obra e outros fatores bem abaixo do padrão ocidental.
As dificuldades surgiram devido à displicência financeira e administrativa do governo que permitiu acúmulo de juros no montante de dois trilhões de reais de 2012 a 2017. O ajuste fiscal é imperioso, mas há que se reorganizar a produção e comércio global, pois a precarização avança pelos países sem que haja como dar trabalho e renda às respectivas populações. A dívida chega a 80% do PIB e com isso a desindustrialização avança.
A previdência é a casca do problema econômico do Brasil, mas o caroço é a desintegração da economia e o desemprego de milhões. A China aumentou de forma considerável a produção em busca de dólares. O equilíbrio deveria ser o alvo da economia global. Alguns países acumularam ganhos no jogo da globalização; outros, como o Brasil, tiveram perdas. Atualmente o país está endividado e não consegue dar pleno atendimento às necessidades de sua população. Há grande liquidez no mercado global, mas também elevadas dívidas. Se os juros subirem, tudo vai desabar.
A criação de riqueza decorre da produção, a qual gera emprego, renda e consumo. Aqui tivemos o inverso disso na indústria. O real valorizado, em consequência de juros exorbitantes, colocou os manufaturados nacionais em desvantagem competitiva. Com isso perdermos empregos, mas ampliamos o crédito. A dívida pública já chega a cerca de um trilhão de dólares, e a arrecadação não cobre os gastos. Já não é mais a depressão de um ciclo; é um buraco muito grande.
Como solucionar? O Brasil ficou com a dívida descontrolada, como reconhecem muitos economistas, devido à dose cavalar de juros com seus efeitos negativos sobre a atividade econômica. É preciso conter a sangria. Moeda é questão fundamental, mas pouco estudada e entendida. No século 20, ocorreu a grande ascensão do dinheiro papel e daqueles que detém o seu controle. Uma ideia bem estruturada ao lado do Estado, desenvolvida através dos séculos para criar a mercadoria desejada por todos: o dinheiro, em papel ou digital.
O dinheiro passou a ser a mais cobiçada mercadoria e a vida passou a girar em torno dele. A economia atingiu os extremos nas finanças e na produção num novo vale-tudo para acumular dinheiro. Há superprodução de bens e dinheiro gerando desequilíbrios. Na África, falta o que comer apesar de sua riqueza mineral. No Brasil e em outros países, não está dando para produzir e obter lucro. Não surgem empregos, aumenta a precarização.
O globalismo está mais para saco de gatos em que os mais fortes comandam os mais fracos, destruindo a natureza, ampliando a miséria fora da área dominante, sem respeito aos interesses econômicos mútuos para assegurar relações equilibradas. As novas gerações precisam de preparo que as fortaleça interiormente para que estabeleçam metas de vida edificante. O mesmo tem de ocorrer com o país.
(*) – Graduado pela FEA/USP, faz parte do Conselho de Administração do Hotel Transamerica Berrini, é articulista colaborador de jornais e realiza palestras sobre qualidade de vida. Coordena os sites www.vidaeaprendizado.com.br e www.library.com.br. E-mail: ([email protected]); Twitter: @bidutra7