Carlos Rodolfo Schneider (*)
Crises profundas requerem reflexões e avaliações equilibradas.
Raghuram Rajan, ex-presidente do Banco Central da Índia e ex-economista-chefe do FMI, afirma que nas sociedades “existe uma espécie de contrato social segundo o qual o Estado nos protege tanto da violência física quanto de ataques externos, mas também quando ocorrem calamidades internas de enormes proporções”.
Cabe aos governos administrar da melhor maneira possível recursos escassos para salvar vidas e evitar um colapso da estrutura socioeconômica. Uma pandemia, em particular, requer robustos investimentos no sistema de saúde, e a correta gestão das relações sociais, para mitigar perdas humanas. É a prioridade.
Quanto se pode exigir do Estado? Isso naturalmente varia de país para país, especialmente da saúde fiscal de cada um. Os esforços que vêm sendo feitos são proporcionais à incomum dimensão da crise provocada pelo novo coronavírus.
O que os EUA, a Alemanha e o Japão podem, a Itália, o Brasil e grande parte dos países emergentes, por exemplo, não podem. Especialmente aqueles que pós-crise financeira de 2008 se abarrotaram de empréstimos internacionais baratos, que em muitos casos não foram aplicados de forma adequada.
O Brasil, que vinha de dez anos de farra fiscal (meados da década passada até meados desta) – em que se desperdiçaram os recursos do boom das commodities, e se aumentaram a carga de impostos e a dívida pública para inchar gastos públicos permanentes – está em situação particularmente delicada, apesar dos esforços do governo passado e do atual para resgatar a capacidade do poder público de servir a sociedade de forma sustentável e deixar de servir-se dela.
Por isso, o Brasil infelizmente não pode pretender responder à crise com a mesma intensidade de países mais disciplinados. A crise não nos libertou da lição de casa. Muito pelo contrário, porque continua não existindo almoço grátis, aliás muito mais escasso agora.
(*) – É empresário.