Virginia Planet (*)
Vamos encarar. O quanto estamos preparados para sermos contrariados ou, ouvir uma verdade doída, uma crítica, mesmo que tudo seja para nosso bem? Se já é difícil esse tipo de diálogo acontecer entre famílias ou casais com certa intimidade, imagine dentro de uma organização. Toda empresa tem colaboradores que temem contar aos seus líderes toda a verdade sobre os problemas no local de trabalho, já que essa honestidade pode ser capaz de limitar a carreira.
Essa censura geralmente equivale a um simples ato de autopreservação, já que o ser humano quer ser aceito, quer fazer parte ou pertencer a um grupo. No final das contas, ninguém quer ter a reputação de “reclamão”, “chato” ou “pessimista”. Os funcionários muitas vezes resistem a dar um feedback honesto devido a preocupações de que seus líderes possam se opor a sugestões de mudança. Ou ficarão calados na presença de colegas com mais tempo de casa porque temem que possam dizer uma coisa errada.
Existem maneiras de começar a minimizar esse impasse de comunicação, entre elas sessões de feedback, linhas diretas de funcionários e caixas de sugestões. Há também as pesquisas de clima e de opinião, tanto internas como as promovidas por empresas terceirizadas, com Focus Group, que depois elegem as melhores empresas para se trabalhar.
Cada uma dessas ferramentas oferece algum valor, mas os líderes geralmente precisam se envolver em um nível mais profundo de conversa para realmente entender o que acontece na empresa. Caso contrário será apenas uma certificação, selo ou prêmio que não retratará a verdade.
Alguns gerentes promovem uma “política de portas abertas”, na qual as portas (e ouvidos) estão sempre abertos aos membros de suas equipes. Embora a maioria dos líderes decisores encoraje uma política transparente, em teoria, isso geralmente não funciona dessa maneira na prática. É preciso estar também com o coração aberto.
O que acontece é que muitas vezes eles próprios são pressionados para agir dessa maneira, mas não têm coragem suficiente para ouvir a verdade e não sabem o que fazer com ela, como lidar com o turbilhão de emoções que este processo demanda.
Pesquisa da Universidade do Texas mostra que funcionários que se sentem à vontade para expressar suas opiniões no trabalho têm muito mais chances de ter um desempenho melhor e permanecer na equipe por mais tempo.
Por exemplo, quem está altamente engajado têm 50% mais chances de superar as expectativas do que trabalhadores não engajados. Além disso, as empresas com equipes altamente engajadas superam em muito aquelas com funcionários menos engajados – em 54% na retenção de funcionários, em 89% na satisfação do cliente e em quatro vezes no crescimento da receita.
Um exemplo prático real: durante uma reunião para tratar de outros assuntos descobrimos que uma pessoa antiga na empresa tinha sido demitida recentemente sem nenhuma explicação. Muito querida por todos, a equipe não se conformava com o desligamento. Um sentimento de impunidade se alastrou e problemas como insubordinação começaram a acontecer.
É preciso, o quanto antes, despertar uma cultura de não apenas ouvir a verdade, mas também falar a verdade. Uma das suas maiores vantagens é criar um ambiente seguro para que os outros se abram e compartilhem suas ideias. A honestidade fornece uma base sólida para a construção de equipes coesas e produtivas.
Quem está na linha de frente, por exemplo, geralmente está em melhor posição para apontar ineficiências e oferecer soluções. As organizações se beneficiam quando os trabalhadores se sentem valorizados e vitais para o sucesso da operação. A sinergia acontece quando os talentos de todos são promovidos, resultando em aumento do moral e redução da rotatividade.
Seus colaboradores devem dizer o que a empresa quer ouvir ou o que ela precisa? Quem será o primeiro a ter coragem de dizer a verdade? E mais, quem estará disposto a realmente ouvir a verdade?
(*) É sócia-fundadora da House of Feelings – primeira escola de sentimentos do mundo.