Bruno Corano (*)
Como previsto, tanto os Estados Unidos quanto o Brasil mantiveram as taxas de juros inalteradas. Entretanto, os EUA têm um possível viés de baixa que vai se iniciar em algum momento, que não deverá ser em setembro. Ainda vai levar mais tempo; com sorte, chegaremos a dezembro com uma pequena sinalização, um corte de 0,25, que não tem efeito econômico nenhum.
Será algo muito mais ‘sentimental’, enquanto que no Brasil a direção já é oposta. Não no sentido de que os juros vão subir, mas no sentido de que está cada vez mais difícil ou improvável baixar. Isso porque a situação fiscal do Brasil vai se deteriorando, os números tendem a só piorar, já que a arrecadação está limitada e os cortes de gastos ainda nem fizeram ‘cócegas’ no que precisa ser ajustado.
Desta forma, por mais que os juros americanos caiam, que isso seria um limitador, eu não vejo o Brasil entrando numa situação de liquidez suficiente para partir para uma redução mais significativa de juros. Já em relação às declarações, de ambos os bancos centrais, até o momento, Jerome Powell novamente diz que o viés é de baixa, mas ressalta que precisa de dados concretos e de um prazo maior.
Se observarmos, percebemos que Powell tem o mesmo discurso desde que a taxa de juros estabilizou. E dali para frente foi sempre pela expectativa de queda.
Recentemente tivemos pequenos sinais de que a inflação está cedendo e o desemprego está crescendo, mas, ao mesmo tempo, o crescimento da economia foi muito maior do que se esperava. Então os dados ainda são conflituosos, no sentido de baixar os juros.
Por isso, com muita propriedade de que certamente em setembro ainda não vai ter dado tempo para se consolidar uma situação nos EUA. Estranho que a imprensa, inclusive a americana, fique noticiando desta forma, dando a entender que está próximo, que a redução pode ser em setembro.
Já no Brasil é aguardar as cenas dos próximos capítulos, em relação aos dados econômicos, para ver como pode ir ficando o cenário. E, por fim, o dólar só vem para pressionar mais esse ambiente, o aumento do dólar frente ao real, o que só prejudica as possibilidades para a redução de juros.
(*) – É economista e investidor da Corano Capital (https://www.instagram.com/brunocorano/?hl=pt).