Carlos Eduardo Sedeh (*)
Já é visível, para quem trabalha no mercado de tecnologia, o aumento da procura por projetos de transformação digital por parte das empresas nos últimos meses.
A mudança na dinâmica dos negócios, devido a crise causada pela COVID-19, acelerou a necessidade da implantação desses projetos. Assim como o temor gerado pelo “bug do milênio” na virada do século, a pandemia do coronavírus forçou uma releitura de como as empresas enxergam a essencialidade da tecnologia para a continuidade dos seus negócios. E, em meio a tantas dúvidas, há somente uma certeza: esqueça as empresas que você conhecia antes da pandemia, elas não serão mais as mesmas de agora em diante.
É preciso começar pensando que existem dois tipos de empresas: aquelas que já nasceram digitais – e as tradicionais, que foram criadas antes de existir a internet – como bancos, instituições de ensino e outras. O primeiro exemplo é de companhias que sentem os seus negócios crescerem atualmente, como e-commerce, aplicativos e outras, que já tinham em seu DNA a interação digital com clientes, a análise de dados e que adotam metodologias ágeis de organização e tomada de decisões.
Já no segundo caso, as empresas pouco digitais sentiram o impacto com a necessidade de isolamento social, que criou uma situação de paralisação econômica sem precedentes, agora buscam entender e adotar o processo de digitalização. A pesquisa global da MuleSoft, fornecedora de plataforma para construção de redes de aplicativos, entrevistou 800 líderes, em organizações com pelo menos 1.000 funcionários, e constatou que quase todos os entrevistados (92%) estão realizando iniciativas ou planejando transformação digital para o próximo ano.
No entanto, outros dados, do Relatório de Benchmark de Conectividade 2020, destacam alguns desafios para as empresas se transformarem digitalmente. Cerca de 60% dos entrevistados acham difícil introduzir novas tecnologias devido às suas infraestruturas de TI; e quase 70% do tempo gasto com Tecnologia da Informação é administrado pelos negócios, em vez de focar na inovação e no desenvolvimento digital.
Isso porque, transformar-se digitalmente não é entregar um notebook para que o funcionário trabalhe em regime home office. É preciso pensar em como os colaboradores interagem dentro e fora do ambiente da empresa, passando pelo Design Thinking para abordar problemas relacionados às informações de maneira analítica e que proponha soluções, além de proporcionar uma nova forma de tomada de decisões, alguma que não esteja presa aos meios tradicionais, com o dinamismo que a economia digital demanda.
Logo, mesmo que o futuro ainda seja incerto, há algo de concreto no horizonte: as empresas que querem dar continuidade aos seus negócios não terão mais a transformação digital somente como um conceito de trend. No mundo pós-COVID-19, as companhias deverão levar a sério os seus investimentos em TI e suas ramificações, como Cloud e IoT. Os exemplos de empresas que nasceram digitais e compreenderam o consumidor, criando um modelo imbatível de negócios, são inúmeros.
O Google, em breve, vai oferecer contas correntes para seus usuários brasileiros. A Amazon está atuando em uma gama imensa de territórios comerciais, desde carteira de pagamentos, passando por logística e produção de conteúdo, com o portfólio se expandindo ao longo do tempo. Isso mostra a importância da transformação digital e como ela é real e necessária, inclusive para pequenos e médios negócios.
E isso vale, também para a sociedade no geral. No Brasil, hoje, ainda há poucos alunos do STEM – acrônimo em inglês usado para designar as quatro áreas do conhecimento: Ciências, Tecnologia, Engenharia e Matemática. A procura por esses cursos também não é alta. Acredito que o interesse pelas áreas de STEM vai aumentar muito, devido à demanda cada vez maior por profissionais com conhecimentos como a programação e análise de dados. Serão essas pessoas as maiores responsáveis pela transformação digital nas companhias.
(*) – É CEO da Megatelecom, empresa que oferece serviços personalizados na área de telecomunicações e Diretor Executivo da Telcomp (Associação Brasileira das Prestadoras de Serviços de Telecomunicações Competitivas).