Carlos Wizard Martins (*)
Sempre tive o espírito empreendedor: com 12 anos vendia frutas e verduras na periferia de Curitiba.
Quando estudava no ensino fundamental (antigo Ginásio), usava uma câmera fotográfica Yachica, emprestada de meu pai, para tirar fotos dos alunos da escola e depois vendia as fotos aos pais como recordação; e com 17 anos fui me aventurar em para Nova York com 100 dólares no bolso.
Em todos esses momentos a visão empreendedora me acompanhou. Seguindo o instinto, aos 26 anos me mudei com a esposa e meus filhos gêmeos para Utah. Fui estudar na universidade Brigham Young. Após a formatura retornei ao Brasil e não satisfeito com o salário que recebia como executivo na multinacional, comecei a dar aulas de inglês para os colegas de trabalho em Mogi Guaçu (SP).
Foi assim que surgiu o que se tornaria, anos depois, a maior rede de ensino de idiomas do mundo. Depois que vendi a empresa, em 2013, muitos pensavam que eu iria parar de empreender e passar a apenas usufruir o patrimônio acumulado ao longo dos anos. Mas esse pensamento não combina comigo. Ao lado dos meus filhos Charles Martins e Lincoln Martins – que também são empreendedores –, parti para novos desafios em outros mercados, do varejo especializado ao fastfood, passando por logística, tecnologia, serviços financeiros, vendas diretas, entre outros.
Empreender não significa apenas criar uma empresa, fazer um negócio crescer, expandir e se tornar lucrativo, próspero e como consequência acumular riquezas. Empreender é a capacidade de acreditar, visualizar, elaborar um plano, executar um projeto, estipular e cumprir metas e tornar sonhos realidade. Mesmo que seu propósito seja de cunho social sem fins lucrativos.
Após 30 anos à frente de várias empresas, e agora com mais 60 anos de idade, assumi um novo propósito de vida: me dedicar a causas sociais de grande impacto para beneficiar o maior número de pessoas. Isso me levou a delegar, em 2018, o comando dos negócios aos meus filhos mais velhos.
Minha primeira iniciativa foi me mudar para Boa Vista, capital de Roraima, onde assumi uma missão humanitária, com o objetivo de ajudar os milhares de refugiados venezuelanos que chegavam ao Brasil – muitas vezes apenas com a roupa do corpo e uma mochila nas costas– em busca de um recomeço de vida.
Foram quase dois anos de um trabalho gratificante e transformador, onde, ao lado de minha esposa Vania e com apoio de centenas de voluntários, empresas, instituições religiosas e entidades assistenciais, conseguimos interiorizar, em diferentes partes do Brasil, mais de 12 mil venezuelanos, proporcionando moradia e emprego para milhares deles.
Essa missão se transformou em um empreendimento maior do que eu imaginava, que relato no livro Meu Maior Empreendimento, lançado pela editora Buzz no Brasil e já traduzido para o inglês e lançado esse mês no mercado americano. Essa experiência me trouxe a convicção de que meu papel agora é atuar como Empreendedor Social, contribuindo com causas e projetos em que acredito e que podem fazer diferença na vida de milhares de pessoas.
Desde maio desse ano, tenho dedicado meu tempo ao Conselho Científico Independente, grupo que reúne mais de 10 mil médicos em todos os 26 estados do Brasil, que defende o tratamento precoce aos pacientes com Covid-19. Trabalhamos de forma voluntária, sem qualquer interesse pessoal, comercial ou político, porém alinhados aos protocolos estipulados pelo Ministério da Saúde.
Com frequência me perguntam: Após a pandemia passar, você irá participar de qual causa social? Não tenho essa resposta ainda, mas confio plenamente que a inspiração divina irá guiar meus passos para que eu possa contribuir em uma causa significativa. Concluo afirmando de que o objetivo de um empreendedor não é apenas aumentar sua conta bancária, mas deixar um legado que irá se perpetuar por muitas e muitas gerações.
(*) – É empresário, executivo e escritor brasileiro, fundador do Grupo Multi Holding, detentor do Mundo Verde, do serviço de pagamento online Akatus e do Vale Presente.