Juliana Christina Rezende (*)
Pensar a Educação Infantil na contemporaneidade remete-nos ao modo como compreendemos a infância e como tais concepções podem potencializar o trabalho pedagógico e contribuir para a construção dos itinerários de vida e aprendizagens das crianças.
Entendemos a criança como um ser humano com potencial criativo, capaz de observar e interpretar o mundo, de estabelecer conexões e produzir cultura, em seus diferentes modos de ser. É importante considerar os espaços e as relações que nele acontecem, as diferentes linguagens e culturas abordadas pelos currículos escolares, e as formas de construção do conhecimento e posicionamento da criança.
O espaço escolar é entendido como elemento que proporciona aprendizagem, de acordo com sua estrutura física, a qualidade dos materiais que dispõe e a configuração de seus elementos, mas também abarca as relações entre as pessoas que nele interagem, seus comportamentos, e como estão em constante transformação. A organização dos materiais e mobiliários deve ser planejada e convidativa, instigando a criança a explorar, criar, investigar, elaborar hipóteses e testá-las, estabelecer relações, fazer escolhas e expressar-se de diferentes formas e linguagens.
O planejamento e organização dos espaços, bem como seus usos, possibilitam a vivência do currículo, entendido como conhecimentos construídos pela humanidade; e “tudo aquilo que corre”: relações, afetos, vínculos, criações, expectativas e desejos de aprender, experimentar e descobrir possibilidades. O desafio é, justamente, abrir espaços e tempos para as múltiplas possibilidades da criança, protagonista nos percursos de aprendizagens. Precisamos, para isso, olhar o mundo com “olhos de criança”, um olhar atento, curioso, ávido por descobrir o que há além do que se vê!
Uma forma de potencializar a vivência do currículo é o trabalho com múltiplas linguagens, na medida em que a criança pode ler e interpretar o mundo utilizando diversas “lentes”: arte, dança, literatura, corpo, música, que contribuem para ampliar seu repertório cultural e linguístico, e para que possa conhecer a si mesma.
As linguagens, em uma perspectiva de letramentos, ampliam as formas com as quais a criança significa os conhecimentos, compartilha ideias, investiga hipóteses, representa a leitura do mundo e de si, sentindo texturas, aromas, sabores; descobrindo possibilidades de criação e construção com materiais diversos, em situações de aprendizagem, tais como: apreciação e discussão de obras artísticas, produção de teatros, pinturas, jogos esportivos, brincadeiras, o contato com a natureza, dentre outras.
Ao proporcionarmos vivências como essas, contribuímos para a construção de conhecimentos importantes para a ação das crianças nos diferentes aspectos da vida, para que se tornem confiantes, façam suas próprias escolhas, para o desenvolvimento da autonomia e de uma postura sensível, reflexiva e ética frente às questões comunitárias do cotidiano no espaço escolar e fora dele.
(*) – É Coordenadora Psicopedagógica do Colégio Marista Champagnat – Ribeirão Preto, do Grupo Marista.