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E se Hayek fosse brasileiro?

em Artigos
quinta-feira, 22 de fevereiro de 2024

Hugo Garbe (*)

Em uma realidade alternativa em que Friedrich Hayek, o economista e filósofo austríaco conhecido por ser o pai (ou o filho, dado que ele foi um discípulo de Mises) do liberalismo, nascesse no Brasil, ele talvez tivesse se deparado com uma realidade econômica “tropical”.

Imagino o economista tentando navegar nas águas do intervencionismo brasileiro ou se deparando com o carnaval burocrático em nosso país.

Para abrir uma empresa? Burocracia. Um desfile de papelada que poderia facilmente desafiar sua paciência e seu amor pela liberdade. “Na Áustria, eu lidava com ideias”, diria ele, “mas aqui, com carimbos”. Quanto ao sistema tributário brasileiro, o austríaco provavelmente precisaria de um novo capítulo em seus estudos. Uma obra-prima da complexidade. “Em teoria, o livre mercado é a solução”, ele murmuraria, “mas primeiro, preciso entender essa nota fiscal eletrônica”.

Confrontado com o intervencionismo estatal na economia, Hayek talvez encontrasse seu maior desafio. Acostumado a pregar a mínima interferência do governo na economia, ele veria um cenário em que o Estado atua como maestro, regente e até mesmo como um dos músicos da orquestra econômica. “Onde está a mão invisível?”, perguntaria, enquanto observa a peso da mão do estado em todos os setores.

Mas e se ele decidisse se envolver na política brasileira? Talvez fundasse um partido, o Partido Liberal Desburocratizante (PLD), com uma plataforma única: menos Estado, mais liberdade. Sua campanha seria um misto de palestras sobre economia e rodas de capoeira, em que ele tentaria esquivar-se das rasteiras do intervencionismo com a mesma habilidade que defende o mercado livre.

No fim, Hayek brasileiro seria um personagem singular: um liberal em um país de paixões estatizantes, um economista tentando desfazer nós burocráticos com a precisão de um cirurgião. Ele seria um sopro de liberdade no calor tropical, sempre com um pé na academia e outro na fila do cartório, tentando entender por que sua forma ainda não tinha sido reconhecida.

Então, enquanto imaginamos esse austríaco tropicalizado, fica a reflexão: podemos aprender algo com essa mistura improvável de ideias? Talvez, que o caminho para a liberdade econômica seja mais sinuoso do que pensamos, e, com determinação, podemos encontrar nossa trilha pela selva burocrática brasileira.

Quem sabe até façamos Hayek se sentir em casa, entre carimbos, futebol e uma infinita fé no futuro do país.

(*) – É Professor de Ciências Econômicas do Centro de Ciências Sociais e Aplicadas da Universidade Presbiteriana Mackenzie.