Fernando Poziomczyk (*)
Mais de 5 mil profissionais de tecnologia foram demitidos no Brasil desde o começo de 2022.
Os dados, compilados pela Layoffs.fyi, evidenciam um cenário de extrema preocupação neste momento de ajuste entre a oferta e demanda de um dos setores mais necessários para o mercado global. É difícil afirmar qual será o futuro destes profissionais ainda em meio a tanta incerteza – mas, algumas percepções de novas exigências e oportunidades podem ser observadas e devem ser levadas em consideração na busca pela retomada desta área.
Toda empresa passa por épocas de readequação de suas estratégias, o que inevitavelmente inclui uma análise mais crítica acerca de seu grupo de profissionais e remunerações. Em cenários de recesso e impactos econômicos mais significativos, não é incomum notar decisões mais severas de cortes especialmente nas Big Techs, como alternativa para lidarem com estas incertezas externas e evitarem problemas mais sérios no futuro.
Mesmo sendo um recurso usualmente utilizado por esses negócios, os layoffs no mercado tech ressaltam um novo comportamento mais racional que deverá ser tomado nos processos seletivos destas empresas – ou, ainda, um certo estímulo ao empreendedorismo na área, o qual também poderá apresentar características distintas dos processos de aberturas de negócios vistas até recentemente.
Ambas possuem seus prós e contras para a recolocação desses profissionais, que devem ser ponderadas para que seja encontrada a melhor solução para cada perfil.
Considerando a primeira opção, costumava ser muito mais fácil empreender no ramo de TI. Mesmo sem experiência considerável na área, uma boa ideia ou um business case atraente era capaz de atrair investidores para o negócio, adquirindo a quantia necessária para testarem o projeto.
Contudo, fato é que grande parte deles falham em seu propósito, contra uma minoria que obtém sucesso. Hoje, aqueles que desejarem empreender devem ter claro em mente que haverá uma maior rigorosidade perante estes investidores, analisando muitos fatores para decidirem ou não monetizar o negócio.
Essa é uma mudança de comportamento que pode gerar receio ou desestímulo em alguns, que precisarão elaborar muito bem seu modelo de negócios e projeções para conquistar a confiança daqueles que irão investir uma determinada quantia em sua ideia. Já para aqueles que buscam se recolocarem no mercado, a mesma análise crítica ocorrerá por parte das empresas.
Apesar destes profissionais ainda serem extremamente demandados por companhias de todos os portes e segmentos, alguns pré-requisitos poderão ganhar força nos processos seletivos, visando uma contratação mais lógica, cautelosa e menos impulsiva a fim de compor os times com as competências desejadas. Um dos exemplos mais clássicos que justifica essa maior rigorosidade é a transitoriedade destes profissionais na área.
Afinal, como não faltam oportunidades, qualquer sinal de descontento com o que está sendo oferecido pela companhia pode levá-los a procurarem oportunidades mais aderentes a seus propósitos e desejos. Essa é uma inconstância que prejudica qualquer empreendedor, em um risco que será bem mais avaliado para a proteção do negócio neste novo cenário. As empresas vão buscar por profissionais mais estáveis e fiéis.
Estamos vivenciando uma crise tipicamente conceitual das Big Techs, onde mesmo em meio a uma demissão em massa de profissionais altamente procurados, o anseio de recuperar a mão de obra qualificada perderá cada vez mais espaço para novos critérios mais seletivos de contratação.
As empresas do segmento precisam ter paciência e ponderação para lidar com essa mudança, readequando seus modelos de negócio para que consigam se recuperar e encontrar times preparados para alavancar a marca.
(*) – É sócio da Wide, consultoria boutique de recrutamento e seleção (https://wide.works/).