Marcus Granadeiro (*)
A ameaça aos empregos oriunda da tecnologia e, principalmente, da inteligência artificial é real e tem sido um problema discutido mundialmente há anos.
Revoltas já ocorreram no passado com a automação das linhas de montagem no começo do século passado, assim como assistimos greves contra novidades, como os cobradores eletrônicos de ônibus. Neste cenário todo, há uma certeza: a tecnologia sempre vence.
Com o avanço da inteligência artificial, o que tem está causando maior apreensão é que não são apenas as posições de baixa remuneração e conhecimento que estão ameaçadas. Advogados que fazem processos repetitivos e lógicos são facilmente substituídos por robôs, além da detecção de câncer ser mais eficaz em softwares do que por meio das análises de médicos. Há, no entanto, um lado positivo.
Embora a tecnologia seja frequentemente pintada em preto e branco, mostrando um futuro sombrio de perda de empregos por meio da automação, se ela for adotada de forma estratégica, é possível automatizar trabalhos perigosos e ajudar a avaliar e mitigar os riscos, procedimentos que são especialmente caros em um ambiente onde aspectos de governança Ambiental, Social e Corporativo, ou seja, o ESG, estão ganhando relevância em diferentes setores.
Na engenharia, a melhor estratégia é a busca da cooperação entre humanos e máquinas. Arrisco dizer que neste setor entendo que não serão as máquinas que vão a substituir os engenheiros, mas os engenheiros que usam tecnologia que vão substituir os que não a usam. E, neste cenário, aqueles que souberem lidar com as inovações que estão se tornando uma tendência cada vez mais presente nas rotinas garantirão um lugar no mercado.
O uso de sistemas colaborativos, de modelos virtuais, como o BIM (do inglês modelagem de informações da construção civil), assim como as realidades virtual e aumentada são tecnologias cada vez mais presente no segmento de engenharia que demandará capacitação para o uso.
Apenas para citar sobre as aplicações BIM, já temos casos reais, como o uso de estações robóticas para a locação e o controle de qualidade, assim como máquinas de terraplenagem sendo operadas de forma autônoma, além de diversos sistemas que funcionam como RPA (Robot Process Automation).
Os profissionais deste setor precisam, de imediato, colocar na sua agenda de aprimoramento a busca pela habilitação em ferramentas que vieram para ficar e, assim como em outros setores, estão sendo impulsionadas pela nova cultura da transformação digital, principalmente após o impacto da pandemia, que sintetizou, de forma mais incisiva, uma inovação que de fato veio para ficar.
(*) – Engenheiro civil formado pela Poli/USP, é presidente do Construtivo, empresa de tecnologia com DNA de engenharia e membro da ADN (Autodesk Development Network) e do RICS (Royal Institution of Chartered Surveyours).