César Silva (*)
O problema educacional brasileiro é crônico e afeta diretamente o crescimento econômico, a renda e o consumo das famílias. Não há como obter um crescimento sustentável e se tornar um país desenvolvido sem que haja mão-de-obra qualificada e, para isso, é preciso focar na formação do jovem de forma a prepará-lo para o mercado de trabalho, ampliando a produtividade, o que impacta diretamente no PIB (Produto Interno Bruto) potencial.
Nossa realidade, entretanto, é bem diferente. O Brasil, ao contrário de países desenvolvidos como os europeus, apresenta menos de 10% dos jovens estudantes do ensino médio vinculados a educação profissional. Quando grande parte da população se encontra sem motivação para estudo e também fora do mercado de trabalho, percebemos que não basta uma economia estável, com inflação baixa, para que haja um crescimento de produção, de estímulo ao mercado. O problema é que falta um dos fatores mais relevantes que movimentaram as maiores economias do mundo: a capacidade produtiva da população.
De acordo com o ranking de produtividade da força de trabalho, desenvolvido pela escola de educação executiva suíça IMD (Institute for Management Development), o Brasil está na 61ª posição de um total de 64 nações avaliadas. A pesquisa mostra que só ganhamos da Mongólia, Nova Zelândia e Venezuela.
A solução dos problemas de um país que se autodenominou “país do futuro” está no investimento na educação profissional técnica de nível médio. Os três últimos anos de estudo, na etapa da juventude, devem ser voltados para uma formação mais contextualizada e alinhada com as necessidades de produtividade do país. Tal mudança tende a reduzir a evasão dos estudantes e também trazer uma aplicação e um porquê para os temas de estudos e de aprimoramento do jovem.
O estudo Itaú Educação e Trabalho, financiado pelo Instituto Itaú e desenvolvido por especialistas do Insper, demonstra que se houvesse um aumento de formação de jovens e adultos em educação profissional o PIB cresceria rapidamente mais de 2,3%. Este tema não é novo e desde 2014 o PNE, Plano Nacional de Educação, previa, em uma das suas 20 metas, mais que duplicar a oferta de educação profissional.
O estudo científico é importante, mas é senso comum que população melhor formada para o mundo do trabalho, produz mais e melhor. Com isto, não só se amplia a produção para exportação, como também, com maior renda, a população aumenta a demanda de mais e melhores produtos e serviços internos.
Esperamos que este movimento, trazido à tona, mais uma vez, agora por entidades de alto valor nos setores produtivos e educacionais motivem reais ações do estado, pois o ensino médio ainda espera pela definição de como serão as trilhas formativas e sobre como a educação profissional pode ser um alicerce de construção de um país mais produtivo, mais igualitário socialmente.
(*) É diretor-presidente da Fundação de Apoio à Tecnologia (FAT)