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Brasil, o país dos legados

em Artigos
quarta-feira, 06 de julho de 2016

Zair Candido de Oliveira Netto (*)

No dia 2 de outubro de 2009, na cidade de Copenhague, o Brasil foi eleito sede das Olimpíadas Rio 2016, derrotando a cidade de Madrid na votação final.

Na época, vivemos momentos de glória e êxtase. Porém, desde então, convivemos com a palavra “legado”. Eu, como milhões de brasileiros, sinto que essa palavra tem apenas um objetivo bem simples: justificativa para manipulação do dinheiro público nas obras específicas e de mobilidade urbana que vão atender a população após os Jogos Olímpicos.

Ora, estamos a pouco menos de um mês da Olimpíada e o Rio de Janeiro vive um caos econômico no qual não há dinheiro para pagar seus servidores públicos – de segurança pública, no qual os traficantes fazem ações dignas de Hollywood, repatriando traficantes internados em hospitais; de saúde pública, onde temos a realidade do zika vírus apavorando toda a comunidade nacional e internacional – e diversos problemas de infraestrutura que demandariam muitas laudas de discussão.

Hoje, a nação brasileira vive uma crise institucional de valores éticos e morais sem precedentes e necessitamos avaliar com maturidade cada situação social, econômica, de saúde e educacional que envolve a sociedade brasileira. Os Jogos Olímpicos é uma oportunidade única de agregar valores e gerar energia suficiente para impulsionar setores carentes da sociedade.

Quando escutamos autoridades preocupadas com nosso desempenho esportivo no quadro de medalhas, com a meta de ficar entre os 10 países melhores classificados, significa que todo o investimento feito nos Jogos Olímpicos se reporta a justificativa dos gastos em cada ouro obtido. Talvez levantemos entre 2 e 6 ouros.

Então, em uma Olimpíada orçada com o custo de 36 bilhões de reais, cada medalha de ouro vai valer o custo de cerca de 7 bilhões de reais. Para que este valor seja justificado, devemos ter um planejamento e um conjunto de ações que precedem a glória do pódio. Para que possamos chegar ao ouro olímpico, necessitamos de ações que venham da base de nossa pirâmide social, ou seja, na escola, para que se justifique uma medalha olímpica brasileira ao custo 7 bilhões de reais.

O que vemos, no momento, é um investimento no esporte de alto rendimento, para o qual o COB contratou mais de 38 técnicos estrangeiros para suprir nossa deficiência técnica de conhecimento e diversas ações paliativas denominadas de “tapa buraco” para obter o sonhado ouro olímpico. Porque imagine se o Brasil, pais sede dos jogos, não ganhar nenhum ouro no Rio 2016? Como explicaremos o legado? Mesmo o da Copa do Mundo, que estamos ainda esperando acontecer.

Infelizmente passamos de 2009 a 2016 sem uma política de incentivo ao esporte escolar, que é base para o sucesso no esporte de alto rendimento. Para a conquista de um ouro olímpico, é necessário envolver diversos setores. Envolver as famílias, as comunidades e os governos locais, o que não é fácil. Temos todo o potencial humano para isso, somos um país privilegiado, somos multiculturais.

Certamente reflexões vão vir à tona após os jogos Rio 2016. Esperamos que o legado das olimpíadas sirva para que o Brasil possa entender que o real valor do esporte é a inclusão social, superação de objetivos, integração familiar, melhora de padrões para a saúde e construção de valores morais e éticos. Assim, podemos utilizar o esporte como uma das pontes para formação de uma nação justa, livre e solidária.

Este será o verdadeiro legado dos jogos olímpicos Rio 2016.

(*) – É coordenador de Educação Física da Universidade Positivo.