Antonio Carlos Lopes (*)
Faz décadas assistimos a abertura desenfreada de novas escolas médicas, sem condição de oferecer formação minimamente digna e honesta.
Jovens cujo sonho é seguir a Medicina, cuidar de pessoas e salvar vidas pagam mensalidades caríssimas e recebem em troca conhecimento insuficiente. O resultado é que são jogados na linha de frente do atendimento não como solução. Viram um risco à saúde da população.
Nesse processo, lamentavelmente, quase todos perdem: o jovem médico tem seu sonho destruído e o bolso extorquido; os cidadãos ficam com uma assistência capenga e perigosa. Só ganha mesmo é o mau empresário que abre cursos a torto e a direito com único intuito de encher as burras de dinheiro, como diriam os mais antigos.
É assustador ver uma nova faculdade médica a cada esquina que tropeçamos. Em sua maioria, não possuem professores qualificados, a grade pedagógica é fraca, não dispõem de hospital-escola. Dessas árvores não nascem bons frutos, claro. Medicina se aprende à beira do leito, acompanhando os bons mestres e lidando com pacientes de carne e osso. É preciso prática e coração para exercê-la com eficiência.
Hoje, o Brasil tem o segundo maior quantitativo de cursos médicos do mundo, são 351, diplomando em torno de 35 mil/ano. Digo diplomando, pois o que fazem realmente não é formar. Como agravante, temos uma invasão de graduados em faculdades meia boca da Bolívia, Paraguai e outros vizinhos…
Coisa ruim não é privilégio exclusivo do Brasil, embora aqui haja em abundância. Pior: muitos desses recém-graduados querem exercer a Medicina aqui sem prestar a prova do Revalida, sem comprovar que estão capacitados para atender você.
A saúde e´ o nosso bem maior, pela qual lutamos dia após dia. Todo esforço deve ser feito para que tenhamos médicos qualificados para cuidar de nós e das futuras gerações.
A Medicina evolui e se reinventa em velocidade espantosa. Daí a necessidade de estar a vida inteira estudando e se desenvolvendo. Não bastam seis anos de graduação com mais três ou quatro anos de residência. É indispensável a participação em congressos nacionais e internacionais, simpósios e jornadas de atualização, para se manter em condição de oferecer o melhor aos cidadãos.
É ofício que exige habilidade, ética e atitude. Assim como são princípios primordiais da relação médico-paciente, o humanismo, a cumplicidade, o sigilo. Aliás, médico só é médico diante do paciente. Deve ter empatia com pessoas, transmitir confiança e tranquilidade por meio de um olhar, de pequeno gesto, de uma palavra.
Lidamos com vidas, todo o cuidado é pouco.
(*) – É presidente da Sociedade Brasileira de Clínica Médica.