Andréa Ladislau (*)
Quem não se lembra do filme “Um Senhor Estagiário”?
Uma história protagonizada por Robert de Niro e Anne Hathway, na qual um senhor, no auge de seus 70 anos, decide se reinventar e estagiar em uma empresa toda moderna e especializada na venda de roupas online. Esse filme nos leva a refletir sobre a ocupação dos idosos no mercado de trabalho e de que forma essa ocupação pode contribuir com significativos benefícios psicológicos para as pessoas da terceira idade, já que a vida requer movimento em todas as suas fases.
Superar o ambiente adverso, seus medos, suas limitações físicas ou até mentais, além de conquistar colegas de trabalho (de diversas faixas etárias) e se manter firme na busca do objetivo por estar ativo no mundo corporativo, sem dúvida, são os maiores desafios de um idoso que encara esse processo de superação. Além disso, a empatia, generosidade e compreensão precisam caminhar juntos na estratégia de acolhimento deste indivíduo.
No âmbito psicológico, voltar ou se manter produtivo é fundamental para o idoso. Pois, o equilíbrio emocional tende a afastar os sentimentos de perda, inutilidade e finitude, tipicamente vivenciados por quem se encontra em faixas etárias mais avançadas. Apesar de sabermos que a etapa da vida caracterizada como velhice é carregada de bonitas histórias e velhas lembranças, mas também vem carregada de sofrimento e tristeza.
Fatores distintos que podem apontar causas que levam a esse desequilíbrio emocional, visto que não se pode afirmar que existe uma causa única para o sentimento de perda demonstrado pelo idoso, mas um complexo de valores associados que devem ser ponderados e reparados por todos e pela sociedade.
Um profissional sênior no time corporativo tem sido desejado por muitas empresas, que passaram a aderir programas de estágio para pessoas acima dos 40 anos.
Um bom exemplo foi que em 2020 a Unilever abriu processo seletivo para contratação de estagiários com idade acima de 55 anos, mostrando que não há limite de idade para estagiar e que é louvável a tentativa de coloca-los de volta à ativa e oportunizar maneiras para se reinventar em meio a uma sociedade onde tudo é urgente e imediato.
O pulo do gato é banir a concepção estigmatizada de que entrar em uma faixa etária elevada é sinal de que a vida acabou e deve-se esperar pelo fim da vida. Pelo contrário, os mais velhos podem ser mais resilientes e dominarem com muita habilidade situações de crise e conflito. Visto que, muitos trazem na bagagem experiências enriquecedoras para compartilhar, ensinar e orientar, com potenciais diferenciados e fundamentais no atual mercado de trabalho.
Portanto, mesmo com o inevitável choque de gerações, a inserção de idosos no ambiente laboral fomenta a revisão de valores pessoais, auxilia na elevação da auto estima e do senso de utilidade deste ser humano. Além de provocar uma revolução nas emoções, sentimentos e visão de mundo em todos os envolvidos neste processo.
Afinal, não importa a idade, gênero ou qualquer outra segmentação, a dedicação e qualidade podem vir de qualquer profissional. Uma mina de ouro para o idoso e para a empresa que vencem as diversidades e potencializam oportunidades para novos talentos brilharem. Além de valorizar o humano e favorecer o equilíbrio emocional e psíquico de quem acreditou estar no fim da vida, sem muitas perspectivas.
(*) – É Psicanalista (https://andrealadislau.com.br/).