Carlos Eduardo Sedeh (*)
Há um movimento já bem estruturado se desenhando nas Telecomunicações do Brasil: a efetivação das redes neutras.
Atualmente, as principais empresas do setor já criaram joint-ventures voltadas exclusivamente a oferta de serviços de aluguel de fibra ou de acesso. Entre elas, estão a Vivo, Tim e Oi — que recentemente criou a V.tal. A premissa de negócios, que torna o modelo economicamente viável é trazer para as empresas a seguinte reflexão: por que investir o dinheiro em infraestrutura, onde já existe cobertura, se você pode utilizá-la por um preço justo, com qualidade e disponibilidade?
É uma boa pergunta, afinal, seria extremamente antieconômico gastar recursos para instalar equipamentos e fibra óptica onde já existem outras redes. Esse processo de fornecer e utilizar redes de terceiros otimiza recursos para todos os lados. E é, sim, um negócio muito interessante. Veja, essas grandes operadoras estão em um novo ciclo que demanda a aplicação de uma quantidade muito grande de recursos para viabilizar a implantação do 5G.
Elas precisam, agora, destinar recursos a isso e sem ao menos ter certeza de um retorno maior do que têm hoje. Pode ser que a companhia coloque muito dinheiro nisso e continue tendo o mesmo resultado que consegue oferecendo serviços com as versões anteriores das redes móveis, como o 4G. Ou seja, as empresas de telecomunicações já estão endividadas e, ainda assim, terão que iniciar novos investimentos, sem uma clara garantia de retorno.
Além dessa necessidade, outro ponto em comum é que todas essas empresas viram suas infraestruturas deixando de gerar valor para seus acionistas, ao permanecerem dentro das organizações. Logo, fazer uma separação dos negócios se mostra uma decisão certa. Além disso, a maior parte delas tive a entrada de novos sócios. Foi o caso da Oi com o BTG, assim como Tim e Vivo que fecharam parcerias com Fundos internacionais, que querem injetar recursos nas redes.
Isso proporcionou outra mudança. A infraestrutura, que não era, nesse momento, uma prioridade para essas companhias, passa a ser primordial para seus “spin-offs”. O interessante das InfraCo — como são chamados os negócios voltados ao fornecimento de redes – é que eles estão capitalizados, tem dinheiro em caixa para ampliação de suas redes.
Estão prontas para ir além das empresas ancoras, de onde saíram — e que são suas maiores clientes — saindo ao mercado para captar novos consumidores no B2B, atendendo aos provedores regionais, que têm feito um grande trabalho na interiorização das redes de fibra óptica no país. Do lado de quem quer contratar esse serviço, o movimento também é muito interessante.
Ao alugar uma rede, provedores menores tem a oportunidade de expandir sua base de atendimento, com novos serviços e em cidades diferentes, sem precisar investir na criação de infraestrutura própria. Só utilizando essas redes das grandes teles, que já estão prontas. Mas, mesmo que boa para os dois públicos, o maior desfio é que essas empresas de fibra forneçam as mesmas condições para suas companhias de origem e para as demais do mercado.
Com preço, prazo, SLA — velocidade do reparo — consistentes e de qualidade. Esse é o principal ponto onde todos precisam prestar bastante atenção. Oferecer um serviço novo e diferente a esse setor, para que suas redes possam ser utilizadas com confiabilidade, segurança, rapidez e com valor correto o que ajudará no crescimento do setor e na melhoria de serviços.
Por isso, vejo com muito otimismo esse movimento de redes neutras e a possibilidade de expansão que vem com ele. E é disso que precisamos, avanço!
(*) – É CEO da Megatelecom, empresa que oferece serviços personalizados na área de telecomunicações e Vice-Presidente Executivo da Associação Brasileira das Prestadoras de Serviços de Telecomunicações Competitivas.