Cadu Guerra (*)
De acordo com o relatório, divulgado em janeiro deste ano, pela Distrito – plataforma de inovação – as startups brasileiras captaram US $4,45 bilhões, em 2022. O número representa uma queda de 54,5%, em comparação com o volume recorde de US $9,7 bilhões registrado em 2021. Os valores chamam a atenção para o atual cenário brasileiro e levantam o questionamento: será que ainda teremos um alto número de investimentos em startups em 2023?
Vivemos tempos de grandes layoffs. Empresas que anteriormente estavam crescendo e contratando, agora, cortaram parte do seu quadro de colaboradores. O próprio gigante da tecnologia Google, anunciou o desligamento de 12 mil colaboradores em todo o mundo. Startups também não ficaram de fora da conta e, infelizmente, até os bancos digitais acabaram demitindo – um bom exemplo disso é o PagBank, que demitiu cerca de 7% do seu quadro de trabalhadores.
Com o “boom” de aplicações, nos últimos dois anos, além da pandemia da Covid-19, que fez com que os governos emitissem moeda para fornecer auxílio para a população e não quebrar a economia com as medidas de fechamento das cidades, observamos um cenário favorável para as startups.
Com a injeção de moeda no mercado, naturalmente temos uma oferta maior de dinheiro no mundo, e consequentemente no mercado de venture capital (modalidade de investimento em que o dinheiro é aplicado em empresas com alto potencial de crescimento). O dinheiro passou a ser aplicado em um mercado que é mais atrelado a risco e imprevisibilidade, e chegou o momento em que, para rentabilizar o dinheiro, os fundos de venture capital tiveram que escolher as empresas para alocar os seus recursos.
No entanto, com a movimentação do mercado para responder à emissão desenfreada de moeda dos últimos anos, passamos a lidar com o cenário do aumento da inflação, em níveis que muitos europeus e americanos nunca viram anteriormente. Para conter a inflação, os bancos centrais aumentaram as taxas de juros. No Brasil, por exemplo, a Selic chegou a 13,75% – um crescimento de mais de dez pontos percentuais em menos de um ano.
O aumento da Selic fez com que os títulos de renda fixa, que já eram considerados pouco atrativos nos últimos anos, crescessem – e, assim, começassem a pagar quase 15% ao ano. Tal movimento fez com que as pessoas, que antes tinham que arriscar seu patrimônio, mudassem suas aplicações para esse modelo.
Tudo isso explica a queda do investimento em venture capital, criptomoedas e bolsa de valores. O dinheiro que precisava correr risco para ser rentabilizado, agora precisaria estar alocado em títulos mais seguros. Como o capital está escasso, os fundos de venture capital agora têm menos dinheiro para alocar e precisam designar melhor seus investimentos. Assim, com o cenário econômico atual, outras opções de empréstimos para as empresas ficam mais caras. Com todos esses fatores, conseguimos começar a entender o cenário de layoffs ao qual estamos imersos atualmente.
Com um panorama de retração e com a diminuição dos investimentos no setor, os empreendedores devem voltar a atenção à situação macroeconômica e para a saúde do negócio. Com o atual momento econômico brasileiro, o aumento da inflação e da taxa de juros, para os investidores, realizar aplicações está mais arriscado e, por isso, este deve ser um ano de estabilidade para as startups. Desta forma, é imprescindível que os gestores repensem a estratégia de contar com investimentos externos – ouso dizer, inclusive, que o grande desafio será gerir os recursos para que a empresa sobreviva e não entre na conta dos layoffs.
Pode ser uma tarefa difícil, principalmente para as startups, mas repensar a estrutura, administrar as despesas e os custos é o caminho para aqueles que desejam se manter no mercado. Ou seja, é preciso ter cautela e tomar decisões sábias. Acredito que não seja o fim dos investimentos externos, mas creio que será um ano de rodadas escassas e poucos conseguirão, de fato, atrair a atenção dos investidores.
Em resumo, o ano será desafiador, mas haverá oportunidade para os negócios se consolidarem com os recursos que já foram captados e, aqueles que se destacarem, conseguirão atrair possíveis investimentos. De modo geral, todos devem captar menos neste ano, mas conforme o cenário econômico do país evolua, teremos sinais de melhoras neste setor.
Aos empreendedores, é preciso dedicação para o sucesso do negócio, com o foco no cliente e, com uma gestão consciente. Só assim será possível sobreviver a este ano e vislumbrar novas perspectivas para 2024. Vamos juntos?
(*) É CEO da Allu, maior plataforma de assinatura de iPhones e acessórios Apple