Ricardo Steinbruch (*) e Fernando Valente Pimentel (**)
A conclusão do acordo entre o Mercosul e a União Europeia, oficialmente anunciada na úlrima sexta-feira (6), será de fundamental importância para a indústria têxtil e de confecção e a economia brasileira. Serão eliminadas tarifas para 97% dos bens manufaturados no comércio entre os dois blocos.
Consideradas as oportunidades de aumento dos investimentos e exportações, criação de empregos, fomento da produção e aporte tecnológico, o tratado será importante para impulsionar o crescimento sustentável e elevar o Brasil ao patamar de renda alta.
No âmbito da iniciativa privada, a Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit) foi uma das pioneiras nas negociações voltadas ao estabelecimento de parâmetros mercadológicos equilibrados e justos, cujos resultados tiveram êxito. Foi um trabalho consistente de diplomacia econômica realizado em conjunto com a European Apparel and Textile Confederation (Euratex).
A Abit, representativa de mais de 25 mil empresas com cinco ou mais funcionários, empregadoras de 1,3 milhão de pessoas em todo o Brasil, tem plena convicção de que a implementação do acordo será de extrema relevância para a promoção e facilitação do comércio, serviços e investimentos do setor, bem como o aumento da cooperação entre as empresas dos dois blocos. É uma oportunidade histórica!
Para a indústria têxtil e de confecção brasileira, o acordo proporciona uma série de oportunidades, a começar pelo acesso ao mercado consumidor da União Europeia, o segundo maior do mundo, com 500 milhões de pessoas, no universo de um PIB total de US$ 22 trilhões. Isso significa expressivo potencial de crescimento da produção e vendas.
É concreta, portanto, a perspectiva de aumento e diversificação das exportações do setor para a União Europeia, até hoje restritas pela ausência do acordo. A Abit estima um impacto positivo na criação de 300 mil postos de trabalho formais em até 10 anos, em função da ampliação do comércio.
Também haverá melhores condições para o intercambio tecnológico, já que o Brasil e a União Europeia têm importantes centros de inovação e pesquisa.
Os benefícios aqui enumerados estendem-se à grande maioria dos setores de atividade. Para todos, o acordo também oferece oportunidade de promover a convergência de normas e padrões comerciais, facilitando o comércio e aumentando a segurança jurídica dos investidores.
Outro impacto positivo é o posicionamento do Mercosul como ator relevante no cenário internacional. Há, ainda, um diferencial competitivo fundamental a ser explorado: o grande potencial referente à bioeconomia, geração de energia limpa e de fontes renováveis e contribuição da indústria para reduzir a emissão de gases de efeito estufa e mitigar as mudanças climáticas.
Somado aos empregos dignos e aderentes ao compliance, inclusive respaldados pela rígida legislação trabalhista brasileira, o caráter sustentável da produção contempla de maneira ímpar os preceitos da governança ambiental, social e corporativa (ESG). É tudo o que os europeus defendem e exigem cada vez mais de seus parceiros comerciais e fornecedores.
Cabe salientar, também, que o aumento da nossa competitividade global nos proporciona melhores condições de enfrentar a concorrência de importados em nosso mercado interno. Além disso, o acordo entre o Mercosul e a União Europeia é congruente com nossas metas de fomento e modernização industrial. Com sua vigência, os países dos dois blocos têm muito a ganhar.
(*) – É o presidente da Abit; (**) – É o diretor-superintendente e presidente emérito da Abit.