Benedicto Ismael Camargo Dutra (*)
A peça teatral de Antônio Ermírio de Moraes, Acorda Brasil! – encenada pela primeira vez em 2006, mostrava através da ficção a dura realidade das favelas
A partir da experiência do Instituto Baccarelli, projeto que oferece formação musical e artística para jovens da comunidade de Heliópolis, a obra do empresário expôs uma iniciativa que, por meio da educação musical, redimiu centenas de jovens carentes. Com a orientação adequada, eles se transformaram em executantes valorosos dos clássicos, formando a Sinfônica Heliópolis.
Com base nessa peça, o filme “Tudo que aprendemos juntos”, dirigido por Sergio Machado, conta a história de Laerte, interpretado pelo ator Lazaro Ramos, mostrando a trajetória de um talentoso violinista que após frustradas tentativas de integrar a OSESP, se vê obrigado a dar aulas de música para uma turma de adolescentes em uma comunidade carente de São Paulo, dominada por traficantes.
Na ficção, as conversas e atitudes dos jovens mostraram o despreparo. Em meio aos desencontros e desencantos, também vemos histórias de coragem e transformação daqueles que se propuseram a ensinar e a aprender. E na realidade, com alegria, vemos que alguns jovens despertam para uma vida mais humana, apesar da aspereza do ambiente em que vivem. Com tristeza, vemos como as cidades e as populações vão decaindo ao nível de sobrevivência sem esperança de melhor futuro.
Há uma briga pesada pelo poder sem que se saiba exatamente o que está acontecendo nos bastidores. Enquanto isso, o Brasil não reage. Há muita teoria e pouco resultado. É preciso resolver os pontos de estrangulamento da economia; chega de paliativos e experimentos ideológicos. Temos de produzir, gerar empregos, reduzir dívidas, evitar que decaiamos na economia e em tudo o mais.
A República, proclamada em 1889, veio sem preparo. Foram muitos os improvisos que perduraram ao longo do tempo, sem que fosse dado um impulso para a formação de um país independente, apto a conceder boa qualidade de vida a todos que se esforçam. Até aos anos 1960, era bem perceptível uma atitude de consideração e bom senso entre a maior parte das pessoas.
As coisas foram mudando, especialmente a partir da predominância da TV nos lares. Progressivamente foi diminuindo a profundidade no modo de pensar influenciado por uma diminuta porção intuitiva, que foi desaparecendo com a dominância do raciocínio frio sem a participação do coração.
Os gestores públicos, em todos os níveis, não administraram corretamente o montante arrecadado, gerado pelo trabalho da população. Sem dinheiro e com juros elevados, os empresários deixam de produzir, aumenta o desemprego. Por que a economia não pode seguir com naturalidade, contribuindo para a produção, vendas, geração de empregos, e consumo? Seria por causa da especulação financeira que suga tudo e depois vai embora, deixando um rastro de destruição?
O dinheiro é o cerne da economia moderna, mas está sendo coordenado de forma isolada e unilateral. Os fins para obtenção do capital acabaram se dissociando dos fins da humanidade que se encontra perdida sem saber mais que caminho deve seguir. Se não houver sintonia, a coisa poderá explodir.
É lamentável a situação em que nos encontramos; é preciso dar um jeito, pois a decadência se acelera em todos os setores com a continuada deseducação e desmotivação da população em geral, e das novas gerações. O país está confuso, mas a limpeza tem de prosseguir, lavando a sujeira grossa que está espalhada pela administração pública e nas empresas estatais.
O povo brasileiro precisa ter clareza; querer a melhora e se esforçar por ela. Temos de sair do atraso secular.
(*) – Graduado pela FEA/USP, realiza palestras sobre qualidade de vida. Coordena os sites (www.vidaeaprendizado.com.br) e (www.library.com.br). Autor de: Conversando com o homem sábio; Nola – o manuscrito que abalou o mundo; O segredo de Darwin; 2012…e depois?; Desenvolvimento Humano; e O Homem Sábio e os Jovens ([email protected]).