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A indexação do salário muda a relação produto/trabalho e causa recessão

em Artigos
quarta-feira, 19 de setembro de 2018

Shotoku Yamamoto (*)

Entretanto, esta teoria funciona numa economia sem indexação dos preços dos insumos, fato que não ocorre na economia brasileira.

Após o fortalecimento do sindicalismo no Brasil, o principal insumo industrial que é a remuneração do trabalho, começou a DIMINUIR a relação PRODUTO/TRABALHO em detrimento do capital. Para provar esta tese, vamos imaginar uma economia de escambo, sem uso da moeda, já que inflação, segundo a teoria de Milton Friedman, é um fenômeno monetário.

Numa economia imaginária, os produtores geram no período de um ano, 10.000 toneladas de alimentos e remuneram os trabalhadores com 20% da produção. Assim, os trabalhadores recebem no final do período, 2.000 toneladas de alimentos. No ano seguinte, os trabalhadores se unem através do sindicato, e passam a exigir 21% da produção a título de remuneração do trabalho, sem aumento da produtividade.

Portanto, a produção no segundo ano continuará 10.000 toneladas e os produtores passarão a transferir aos trabalhadores 2.100 toneladas de alimentos. Os produtores que no ano anterior, dispunham de 8.000 toneladas para pagamento de impostos energia, outros insumos e remunerar o capital, no segundo ano terão 7.900 toneladas.

Ao continuar com esta progressão da remuneração dos trabalhadores nos períodos seguintes, fica evidente que a fatia dos produtores irá diminuir continuamente até que os produtores ficarão sem nenhuma parte da produção para remunerar o capital e acabarão encerrando a atividade produtiva.

Esta hipotética economia de escambo só poderia funcionar desde que houvesse aumento da produtividade na mesma proporção do aumento da remuneração do trabalho. Isto é, com o mesmo número de trabalhadores produzissem no segundo ano 11.000 toneladas de alimentos, não 10.000.

Com isto, creio que fica evidente a urgente necessidade de acabar com a indexação dos preços de todos os insumos industriais, principalmente a mão de obra. Aliás, o Plano Real levado a prática em 1994 já condicionava o seu êxito ao fim da indexação, porque, em última análise, era o fator determinante da geração do déficit público, emissão de moeda e aumento da carga tributária.

O Banco Central, para eliminar o efeito inflacionário desta emissão, vende títulos do Tesouro Nacional pagando juros “pornográficos” para trazer de volta estas moedas, aumentando o endividamento. Portanto, o próprio governo foi vítima da indexação.

Se o Governo Federal não tivesse os poderes de emitir moeda, colocar no mercado títulos da dívida pública e aumentar a carga tributária numa canetada, estaria na mesma situação que se encontram a maioria do Estados e Municípios, inadimplentes como as empresas.

Para finalizar, a inflação brasileira não é apenas um fenômeno monetário e, portanto , a política de restrição ao crédito é inócua no combate a inflação porque, se de um lado, diminui a demanda, por outro, diminui também a oferta porque a produção está diminuindo com a falência das indústrias.

(*) – É diretor da Sky Corte Laser e diretor conselheiro da ABIMAQ – Associação Brasileira da Indústria de Máquinas.