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A importância do imaginário infantil na primeira infância

em Artigos
sexta-feira, 29 de dezembro de 2017

Fernanda Machado (*)

O desenvolvimento cognitivo, que começa antes mesmo do nascimento, prossegue durante a época das brincadeiras.

A chamada primeira infância, é uma época mágica e cheia de fantasias, em que a criança passa por um importante processo de aprendizagem, e que sem dúvida tem um “projeto” de desenvolvimento bastante próprio para os estágios posteriores. É certo que cada pessoa terá uma experiência particular, de acordo com a cultura e o meio social em que vive, entretanto, o período de maturação cerebral deve acontece mais ou menos nas mesmas épocas para todos os seres humanos, o que explicará, por exemplo, o motivo pelo qual cada estágio possui características muito particulares e específicas.

Sabemos que o processo de mielinização, envoltório da bainha de mielina nos axônios, já acontece durante o período pré-natal, o nosso cérebro já começa a ser preparado para fazer importantes conexões, e assim nos preparar para o mundo pós-natal. Aos 2 anos de idade a criança já tem um cérebro em peso e tamanho muito próximos ao de um adulto, o que poderia supor que esse cérebro faria as mesmas conexões que um cérebro maduro, entretanto essa suposição não é verdadeira, pois o cérebro humano, de acordo com pesquisas recentes, apesar de iniciar seu processo de maturação lá no período pré-natal só chegará a termo por volta dos 20 e poucos anos de idade.

Ou seja, não é apenas fundamental que tenhamos um cérebro, mas que tenhamos um cérebro que mature e proporcione conexões eficazes, capaz de criar uma orquestra em sintonia que comande nossos comportamentos, emoções e sentidos de forma funcional.

O imaginário infantil é tão importante para a criança na primeira infância, pois é esse imaginário permeado de símbolos e fantasias que permitirá aos pequenos a lidar com uma “fase” que é tão diferente da do adulto. O cérebro deles, devido a falta de maturação para a idade, que é esperado, não pode agir e dispor de racionalidades como o nosso, por isso “lançam mão” de ferramentas pertinentes ao que eles podem lidar, de acordo com idade cronológica e maturação cerebral.

Quanto mais imaginação e fantasia a criança criar mais sua criatividade, abstração e flexibilidade cognitiva estarão aptas a ingressar no estágio posterior.
Quando contamos histórias, por exemplo, estamos estimulando o cérebro a pensar, ciar e inibir imagens, acrescentar conteúdos de seu cotidiano a novos temas. A estimulação da aprendizagem, linguagem, percepção entre tantas outras funções são adquiridas com simples leituras de contos infantis.

Quando damos um lego para uma criança montar podemos observar o quão criativa aquela criança está sendo, pois suas montagens refletem seu dia a dia, mais que isso, refletem seu imaginário, uma criança com um cérebro em franco desenvolvimento, fazendo milhares de conexões precisa ter ideias “mirabolantes”, precisa criar, criar e criar, todas as crianças com um desenvolvimento neurotípico (que não apresenta distúrbios significativos no funcionamento psíquico) têm potencial para isso.

Entretanto se não forem estimuladas por seus cuidadores infelizmente essa imaginação ficará pobre, o que subentende-se um cérebro trabalhando menos e em desuso e consequentemente desenvolvendo menos funções importantes para estágios posteriores. Portanto, a necessidade da estimulação é tamanha.

É importante lembrar aos cuidadores que brincar não significa deixar o filho na frente de um tablet horas a fio, deixar o filho na frente da tv nas horas vagas, comprar um lego que venha com sugestões de montagens, “abarrotar” a casa de brinquedos que não estimulam coordenação motora e principalmente não estimulam a imaginação e a criação própria.

Não existe nada mais promissor e saudável para uma criança do que ela própria fazer sua boneca de pano ou inventar seu carrinho com a caixa de papelão.

(*) – É psicóloga em terapia cognitivo comportamental com formação em transtornos psiquiátricos e neuropsicologia (www.fernandamachado.psc.br).