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A humanidade está presa ao pensamento de curto prazo

em Artigos
sexta-feira, 16 de setembro de 2022

Caroline Capitani (*)

Têm leituras que nos fazem refletir profundamente, que nos deixam inquietos, que nos “roubam” um instante de tempo para que tiremos aprendizados.

Esse tipo de leitura não passa despercebida como um amontoado de palavras que consumimos diariamente na internet. O texto que li de Richard Fisher, na MIT Technology Review, intitulado em inglês “Humanity is stuck in short-term thinking” (A humanidade está presa no pensamento de curto prazo) gerou esse impacto em mim. Apesar de ter transcorrido dois anos (2020) desde que foi escrito, permanece muito atual.

Fisher diz que embora tenhamos a capacidade de projetar um futuro mais longevo, ela raramente é implantada na vida cotidiana. Ele traz ainda que se nossos descendentes diagnosticassem os males da civilização do século 21, eles observariam um perigoso imediatismo: um fracasso coletivo em escapar do momento presente e olhar mais à frente.

O mundo está saturado de informações e os padrões de vida nunca foram tão altos, mas muitas vezes é uma luta ver além do próximo ciclo de notícias, das próximas eleições ou trimestre de negócios. E a pergunta que fica: Por que estamos tão presos no “agora”? Fisher traz uma série de embasamentos no seu texto, entre eles do historiador François Hartog, autor de “Regimes of Historicity”, de que estamos em meio a outro encurtamento do agora.

Hartog argumenta que em algum momento entre o final dos anos 1980 e a virada do século, uma convergência de tendências sociais nos levou a um novo regime de tempo que ele chama de “presentismo”. O historiador a define como “a sensação de que apenas o presente existe, um presente caracterizado ao mesmo tempo pela tirania do instante e pela esteira de um agora sem fim”.

No século 21, Hartog escreve, “o futuro não é um horizonte radiante guiando nossos passos, mas uma linha de sombra se aproximando”. Na escala da civilização, é difícil testar empiricamente as afirmações daqueles que dizem que estamos vivendo em uma era de curto prazo. Historiadores futuros podem ter uma visão mais clara. Mas ainda podemos perceber a falta de pensamento de longo prazo de que nossa sociedade sofre.

Podemos ver o curto prazo nos negócios, nas iniciativas de inovação, na política e em nosso fracasso coletivo em enfrentar riscos de longo prazo, como mudanças climáticas, pandemias, guerra nuclear ou resistência a vacinas. Fisher também destaca que nos negócios, os relatórios trimestrais incentivam os CEOs a priorizar a satisfação do investidor de curto prazo sobre a prosperidade de longo prazo. Já na política (reflexão propícia para o período eleitoral que nos aproximamos), os líderes estão mais focados em atender os desejos de sua base do que na saúde a longo prazo da nação.

Esses riscos tornam cada vez mais importante estender nossa perspectiva além de nossas próprias vidas; nossas ações estão se espalhando no futuro mais do que nunca. Essa é mais uma das provocações de Fisher em seu texto. Por fim, a suposição de que as coisas devem sempre permanecer como estão hoje é, na verdade, uma forma de presentismo. Mas se entendermos algumas das pressões psicológicas que nos empurram para o curto prazo na vida cotidiana, podemos encontrar maneiras de combatê-las.

Precisamos combater esse imediatismo, essa corrida maluca de respostas instantâneas das frentes de inovação das empresas, por exemplo. Não se dá tempo para testar, para maturar, para colher aprendizados, para olhar um pouco mais para frente, para projetar os impactos. Talvez esteja aí um dos argumentos para os quais as empresas olham tanto para melhorias, horizontes temporais mais curtos de inovação (H1) e menos para horizontes mais longevos e com maior potencial disruptivo (H2 e H3).

Esse texto fez tanto sentido para mim, que a partir do meu “recorte” compartilho um pouco desse aprendizado com vocês. Vale a reflexão!

(*) – É VP de Design Digital e Inovação na ilegra (https://ilegra.com/).