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A evolução da tokenização no sistema financeiro brasileiro

em Artigos
segunda-feira, 15 de agosto de 2022

Raul Moreira (*)

O sistema financeiro vem passando por uma série de transformações, caracterizadas por ondas evolutivas cada vez mais rápidas e profundas.

Hoje é possível verificarmos que diversas forças vêm atuando de forma simultânea e combinada, provocando toda essa aceleração evolutiva, seja no sistema como um todo, como também em alguns segmentos específicos, como é o caso dos meios de pagamentos.

De um lado temos um novo consumidor exigindo novas e boas experiências a um preço cada vez mais competitivo, de outro lado, visualizamos uma ampla gama de inovações tecnológicas se tornando cada vez mais acessíveis, baratas e escaláveis.
Temos ainda as mudanças na estrutura regulatória do setor, facilitando a entrada de novos players e flexibilizando diversas normas e regulamentos com o objetivo de derrubar barreiras e aumentar a concorrência.

Naturalmente esse novo cenário nos aponta também para uma ampla gama de mudanças estruturais com efeitos práticos para o consumidor. A exemplo da chegada dos bancos digitais, do surgimento dos novos tipos de instituições financeiras focadas em pagamentos e crédito (em especial as instituições de pagamentos, sociedades de crédito, iniciadoras de pagamentos, dentre outras). Complementa esse cenário, a implantação dos pagamentos instantâneos, a digitalização do cartão de crédito, bem como o próprio movimento de modernização dos bancos tradicionais.

Acontecimentos como esses, que combinados com uma ampla adoção do Open Finance, certamente levarão o sistema financeiro brasileiro para um novo patamar de inclusão e experiência na oferta de novos serviços financeiros. Todo esse contexto nos demonstra uma realidade inexorável de que o mercado evoluiu, de que o consumidor mudou e o arcabouço regulatório obviamente também se ampliou sensivelmente.

Visualizamos cuidadosamente que novas ondas transformadoras começam a se formar no horizonte, impulsionadas principalmente pelas alavancas comportamentais, regulatórias e de inovações tecnológicas amplamente debatidas atualmente. Esse novo momento começa a se desenhar a partir da combinação da chegada de diversas novas tecnologias, dentre elas as redes 5G, uso intensivo da inteligência artificial, além das plataformas financeiras baseadas em blockchain.

O fato é que estamos vendo o início da construção de ambientes que antecipam os conceitos de metaversos e web 3.0, que adicionados à possível regulamentação dos criptoativos, em fase de discussão no Congresso, e a forte disposição do Banco Central no seu processo de desenvolvimento do projeto “real digital”, certamente nos levarão para novos caminhos ainda não experimentados em larga escala no Brasil.

Se realmente esse cenário se concretizar num mesmo período de tempo e espaço mercadológico, seria impossível não sermos provocados, mais uma vez, a olharmos para frente e reconhecermos as fortes tendências de mais uma onda de mudanças estruturais que certamente irá afetar a dinâmica de oferta de serviços financeiros.

Esse novo momento poderia se traduzir naquilo que estamos chamando de “Tokenização da Economia”, se traduzindo num novo universo que abrange uma série de soluções baseadas em ativos inteiramente digitais, aonde estariam inseridas as já conhecidas criptomoedas, mas que poderá representar um ambiente muito mais amplo do que isso.

Por exemplo, hoje já é possível verificarmos uma enorme diversidade de tipos de ativos digitais servindo para os mais diferentes propósitos, seja um contrato de imóvel, um carro compartilhado, um título de crédito, um acesso diferenciado a um clube de benefícios, direitos sobre marcas, sobre obras de arte, músicas ou obras literárias. Apenas para citar alguns poucos exemplos do seu potencial.

Enfim, chegamos no momento certo de nos aprofundarmos nas discussões regulatórias, tecnológicas, consumeristas, de segurança cibernética e tantas outras necessárias para tratarmos de um novo mundo de opções, bens e ativos (tangíveis ou intangíveis), que poderão se fragmentar e se tornar mais acessíveis aos consumidores por meio dessas novas ferramentas de “tokenização”.

E considerando que isso certamente se concretizará como mais uma onda evolutiva na forma com que os serviços financeiros estarão sendo disponibilizados, o mais importante neste momento seria estarmos preparados e com a mente aberta para tudo aquilo que se apresenta no horizonte.

(*) – É Conselheiro e Coordenador do comitê de inovação do Banco Original. É conselheiro da PicPay, membro das diretorias da ABECS e ABBC e Diretor da Escola de Negócios e Tecnologia Germinare.