Daniela Barbará (*)
O juiz Sérgio Moro causou um reboliço não só na vida política do Brasil como também nos ambientes corporativos.
Palavras como delação premiada, gravação telefônica, empresa offshore, impunidade, doleiros, corrupção, tornaram-se rotina na vida dos telespectadores brasileiros e no linguajar popular. Isso porque grandes e tradicionais empresas brasileiras e seus fornecedores estão sendo chamados a prestar contas sobre trabalhos realizados. Mas o que mudou?
Muito simples. Não se toleram mais contratos falsos, caixas 2 e nem operações bancárias sem comprovação. A revelação de intrincados esquemas de corrupção envolvendo a esfera pública e privada fez com que não se aceite mais malas cheias de dinheiro circulando dentro das empresas, nos porta-malas de carros oficiais e táxis. Agora, empresas de diversos portes e segmentos que são prestadoras de serviços de grandes companhias têm que se justificar ao juiz. “Ah, mas eu sempre fiz tudo direitinho e não tenho nada a ver com isso”. Será?
Recentemente me disseram: ainda não estamos na Lava Jato. E minha resposta foi: prepare-se porque vocês podem ser citados em breve. Toda empresa, mesmo que idônea, pode ter seu nome ventilado na imprensa durante grandes investigações como a Lava Jato. Mais de 40 empresas de diversos portes e setores já foram citadas na operação da Justiça Federal. Com isso, posso dizer que as empresas precisam se preparar para gerenciar essa crise ou terão que arcar também com uma mancha grande na reputação e marca.
Para isso é preciso preparar a casa com todas as informações possíveis. Se respaldar, documentar e manter a transparência nas relações com todos os principais públicos. A imprensa é a primeira que vem à mente, mas deve-se também dar atenção especial aos funcionários e seus próprios fornecedores e clientes.
A preparação para viver uma situação dessas deve ser feita com vários setores internos envolvidos. Um grande espírito de equipe deve ser mantido durante o levantamento dos possíveis cenários de crise e cada uma das respostas. Todos têm que ser chamados para colaborar: do chão de fábrica aos principais executivos, passando pelo departamento jurídico, financeiro e recursos humanos.
O foco é minimizar qualquer possível dano à empresa: seja monetário ou mesmo social. Contratos, notas fiscais, trocas de e-mails, boletos bancários, acordos firmados, pagamentos, movimentações financeiras, aditivos contratuais, documentos dos diversos tipos devem estar prontos para servem usados como provas. Prestar esclarecimentos é fundamental neste momento.
A operação Lava Jato é a maior investigação de corrupção e lavagem de dinheiro que o Brasil já teve. Os escândalos corporativos podem e devem ser tratados rapidamente e com a maior coerência possível. Assumir a responsabilidade pelo ocorrido, mostrar que está à disposição para esclarecimentos, dar atenção às vítimas diretas e indiretas e ter uma postura humilde em relação ao estrago feito são algumas das posições das empresas que se manterão vivas depois que tudo passar.
Estamos assistindo de camarote ao maior escândalo de corrupção da história do País, que já completa mais de três anos. O que restará do Brasil? Empresas que prestaram seus esclarecimentos, eleições limpas, profissionais treinados e prontos para tomar à frente e uma relação maior de transparência entre empresas e seus fornecedores.
A comunicação é a ferramenta necessária para que possamos vislumbrar um país mais limpo e com empresas idôneas.
(*) – Trabalha há vinte anos com gerenciamento de crise e comunicação corporativa com empresas de diversos portes e segmentos ([email protected]).