Fabio Arruda Mortara (*)
Com a expiração, em 2015, dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, os distintos organismos multilaterais da ONU estão trabalhando na elaboração das novas metas, para o período 2016 a 2030.
No entanto, não basta fazer planos para a melhoria dos indicadores do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). É preciso cumpri-los, pois a cada frustração em programas e acordos globais, como os do ambiente e contenção das mudanças climáticas, desarmamento, mitigação da fome e da miséria, refugiados, inclusão social, saúde e educação, crescem as tensões e diminuem as chances de a humanidade atingir um patamar mínimo de desenvolvimento sustentável, socialmente justo, economicamente viável e ambientalmente correto.
Por mais estruturada e influente que seja a ONU e sua rede de órgãos em todo o mundo e por maior que seja o engajamento dos governos nos novos compromissos da civilização, os objetivos para garantir um futuro digno para os 7,2 bilhões de habitantes da Terra não podem prescindir, para sua viabilização, do comprometimento também do setor privado, por meio das organizações do Terceiro Setor e do envolvimento direto das atividades produtivas e suas entidades de classe.
Nesse contexto, a indústria gráfica tem íntima relação com o ensino, pois seu crescimento é grandemente influenciado pelos investimentos em educação e cultura, que são indutores do crescimento do contingente de consumidores de livros, cadernos, jornais, revistas, embalagens e outros subprodutos da inclusão socioeconômica de grandes contingentes populacionais.
No Brasil, o setor tem se posicionado e reivindicado de modo persistente a melhoria do ensino. A Associação Brasileira da Indústria Gráfica (Abigraf) foi pioneira a apresentar proposta, encaminhada no seu 15º Congresso, na cidade de Foz do Iguaçu, em 2011, de que 10% do PIB fossem destinados à educação. Do mesmo modo, será importante que a Confederação Latino-Americana da Indústria Gráfica (Conlatingraf) constitua-se em centro irradiador de reivindicações e sugestões para a melhoria das políticas públicas relativas à escolaridade, em todo o continente.
A mobilização da indústria gráfica nesse sentido é de grande importância, pois os latino-americanos estão entre os povos que não cumpriram os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio na área do ensino. Prova incontestável disso encontra-se nos resultados do 3º Estudo Regional Comparativo e Explicativo (Terce), realizado pelo Laboratório Latino-Americano de Avaliação da Qualidade da Educação (Llece), divulgado em julho último, em Santiago do Chile.
O Terce integra as ações globais do Escritório Regional de Educação da Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (Unesco). Seu propósito é contribuir para a elaboração de políticas públicas e o seu debate na sociedade, ao divulgar dados sobre a qualidade da educação sem exclusão, em favor de sua democratização. A avaliação é relativa a alunos de 4º e do 7º anos de cada um dos países. Os estudantes do 4º ano fizeram testes de matemática e linguagem (leitura e escrita). Os do 7º ano, nas mesmas disciplinas e também em ciências.
Infelizmente, os resultados não são positivos. Segundo o relatório, 83% dos alunos do 7º ano, por exemplo, estão nos dois níveis mais baixos em conhecimentos de matemática. Esse grupo resolve problemas simples que envolvam frações, mas têm dificuldades em solucionar questões que abordam ângulos. Para termos ideia de nossa defasagem, o Chile, primeiro colocado no Terce, não figura sequer entre os 30 melhores países do Pisa, avaliação internacional realizada pela Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE).
Precisamos avançar muito, e a educação é tema relevante da indústria gráfica. Por isso, na presidência da Conlatingraf, estimularemos de modo permanente as entidades de classe à mobilização em prol de políticas públicas eficazes para o ensino, em todos os países que têm assento na entidade. A América Latina e o Caribe continuam com expressiva defasagem na escala do desenvolvimento em relação às nações da Europa, os Estados Unidos e a Ásia.
Nossa melhor oportunidade de reverter esse quadro está nas salas de aula, nos livros, jornais, revistas e cadernos e na capacidade de nossos países de proverem ensino gratuito de alta qualidade a todas as crianças e jovens.
(*) – É presidente da Confederação Latino-americana da Indústria Gráfica e do Sindicato das Indústrias Gráficas/SP; coordenador do Comitê da Cadeia Produtiva do Papel, Gráfica e Embalagem da Fiesp e country manager da Two Sides Brasil.