Comerciantes precisam de habilidade para driblar os desafios de alta do mercado e atender às necessidades dos clientes.
Desde o início da pandemia um fantasma assombra os brasileiros: a inflação. Para quem frequenta supermercados é evidente o aumento no preço de diversos produtos, e há muitas explicações para isso. A mais comum e defendida pelos especialistas é a alta dólar, que encarece os insumos agrícolas e impacta diretamente o valor dos produtos comprados por importação. O outro fator é a alteração na demanda. Com as restrições de funcionamento de comércios, o fluxo de consumo mudou e, consequentemente, o de produção também. Alguns produtos passaram a ter alta procura e pouca produção, encarecendo o preço. Por último a entressafra. Em períodos de pouca oferta de produtos plantados em solo nacional e alta demanda interna, é necessário importar para garantir o abastecimento doméstico e o controle nos preços.
Do ano passado até agora dois produtos da cesta básica se destacam como os líderes em disparo de preço: o óleo de soja, que teve aumento 82,34% no acumulado dos últimos 12 meses, e o arroz, com 56,67% de aumento. Os dados foram apresentados pelo IBGE (Instituto Brasileiros de Economia e Estatística) no início de maio. O caso do arroz explica a relação de demanda interna do Brasil x importação. No ano passado houve uma redução de área plantada, ocasionando menor oferta do produto. Porém, com a pandemia, a demanda por arroz no mundo explodiu e as exportações cresceram 98%. Neste cenário de alta procura e pouca produção, o preço subiu.
Para dar conta do abastecimento interno, o Brasil importou o terceiro maior volume de arroz da história em 2020. As importações totalizaram 217,42 mil toneladas (equivalente casca), cerca de 16% acima do que foi registrado no mês anterior e 239,5% maior do que o comparativo anual. A maior parte dos envios veio dos Estados Unidos. A tentativa do governo foi de equilibrar o preço na balança comercial, para dosar o aumento ao consumidor final.
No ano passado o Brasil, que é o maior produtor de soja do mundo, teve que importar o produto dos Estados Unidos para abastecer o estoque interno, visto que um alto volume foi importado pela China ao mesmo tempo que a demanda interna pela soja cresceu no período de entressafra. Ação parecida acontece todos os anos com o alho nacional, que tem a oferta no varejo diminuída no período maio a julho por conta da entressafra, e é amparado pelo alho chinês, que mesmo com taxa de importação e medida antidumping empregados, ainda é competitivo no mercado e desacelera a alta do produto para o consumidor final.
A visão do comerciante: Os comerciantes são os intermediários nesse cenário, e ficam responsáveis por tentar a melhor compra e garantir o abastecimento interno. Com tantas oscilações de preços e demanda por importação e exportação, eles buscam fazer uma verdadeira ginástica para conseguir equilibrar o preço, especialmente em períodos de escassez.
Waldir de Lemos, presidente da Brastece (Confederação Brasileira das Associações e Sindicatos de Comerciantes em Entrepostos de Abastecimento), destaca que alguns produtos em época de entressafra têm sua demanda normalmente diminuída, pelo fato do mercado já estar habituado com a época de safra. Mas, quando não é o caso, os comerciantes buscam saída em pequenas produções ou em outras regiões. “Quando a entressafra é localizada, o comerciante busca a mercadoria de outra região produtora, como manga, abacate, cebola, etc. Tentamos sempre oferecer produtos de qualidade o ano todo e com preço estabilizado. Quando vemos que o produto está inflacionado demais pela relação de oferta e demanda, somos transparentes com os clientes. Nesse caso, vale até a dica do que pode substituir o produto nessas épocas”, explica.