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Planejamento é a base da sucessão familiar no agronegócio

em Agronegócio
terça-feira, 08 de outubro de 2024

Com desafios emocionais e gerenciais, a perpetuidade de negócios agrícolas e rurais requerem cuidados especiais e boa governança para evitar a dissolução do legado

A sucessão é uma etapa essencial para garantir a perpetuidade das empresas familiares. No campo não é diferente. E os negócios passados de pais para os filhos representam uma grande parcela das propriedades rurais. Contudo, a falta de planejamento adequado tem comprometido essa perpetuidade. Segundo o Sebrae, menos de 30% das empresas familiares chegam à segunda geração, e esse índice cai para 5%, na terceira. A ausência de preparo e a gestão de conflitosa ineficaz são fatores que frequentemente minam a transição.

Todo esse processo vai além da simples “troca de bastão”, e envolve a preparação dos herdeiros, a criação de uma governança estruturada, e a implementação de estratégias de inovação que permitam que a nova geração mantenha e amplie o negócio. Um dos maiores erros é subestimar o tempo necessário para preparar a transição, o que pode levar anos.

Na contramão dessa realidade, há exemplos de empresas familiares que planejaram muito bem a troca de comando. Um grande exemplo é a família Martins, que administra o Grupo J2M. A corporação é composta pelas empresas FertiSystem (especialista em tecnologias para o plantio), Solve (atua com transformação em polímeros por meio de injeção plástica e impressões 3D) e Martins Agronegócios (divisão agrícola, de avicultura e citricultura) há alguns anos começou a transição familiar.

Segundo Mariana Grando, engenheira agrônoma e atual diretora de negócios na FertiSystem, todo o processo exige um planejamento detalhado e de longo prazo. “Aqui, tudo começou com o desejo de crescimento contínuo e perpetuidade. O sucessor precisa estar preparado para assumir as responsabilidades e conhecer profundamente o negócio. Porém, isso leva tempo e requer uma dedicação constante”, explica.

Paralelamente a isso, além de dedicação, a preparação de quem vai assumir os negócios, envolve o conhecimento técnico da empresa, do mercado e dos produtos, e ainda o desenvolvimento de habilidades emocionais e de liderança. “Uma sucessão bem-sucedida está diretamente relacionada à capacidade do sucessor de entender a essência do negócio e ser capaz de liderar a empresa com visão estratégica”, completa a diretora.

Percalços
A gestão de conflitos é uma das maiores dificuldades no processo. Na maioria dos casos, as famílias enfrentam divergências sobre o futuro do negócio, o que pode agravar tensões e prejudicar a transição. Além da preparação técnica e emocional, outro ponto importante do processo é a governança familiar. A criação de regras claras sobre papéis e responsabilidades dentro da empresa é fundamental para evitar esses problemas e mitigar conflitos. “Em nosso caso, criamos uma governança clara, com regras sobre a entrada e saída de membros da família, além de definir papéis e responsabilidades”, relata Mariana.

Quando bem executada, a transferência de liderança pode ser um motor de inovação para todas as empresas, incluindo as do ramo agrícola. A continuidade das operações depende de como a nova geração se adapta às mudanças no setor e às exigências do mercado, incluindo a adoção de práticas sustentáveis e de novas tecnologias.

Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontam que o agro responde por cerca de 26% do Produto Interno Bruto (PIB) do país, e a introdução de inovações tecnológicas é vital para seu crescimento. “Essa transição é um processo que deve ser cuidadosamente planejado para garantir a continuidade dos negócios e a adaptação às demandas do setor”, frisa a diretora.

Além disso, o apoio de consultorias especializadas e um planejamento estratégico bem definido facilitam a governança e o desenvolvimento da empresa. Desta forma, garante que o negócio familiar continue competitivo e assegura que a nova liderança possa preservar o legado, ao mesmo tempo em que promove o crescimento sustentável.

Mariana ressalta que a sucessão no agronegócio é um processo complexo que exige planejamento, preparação técnica e emocional, além da criação de uma governança sólida. O caso da FertiSystem demonstra que, com o preparo adequado e o suporte de consultorias especializadas, é possível não apenas garantir a continuidade, mas também, impulsioná-los para um crescimento inovador. “Sucessão familiar não é só sobre herança, é sobre o legado e a perpetuação de valores, inovação e sustentabilidade”, conclui.