Estimativa é de 200 BI de dólares e o Brasil está dentro
Da Redação
Se você ainda não se deu conta, saiba que a indústria de orgânicos tornou-se um grande negócio, não só como aliada à alimentação natural, mas também à natureza e à inovação no modo de produzir. E isto não é uma “onda” que passou e alguns surfaram. Pelos números, trata-se de um mar de oportunidades. O mercado global movimentou US$ 200 bilhões, só em 2020, registrando taxa de crescimento de 10% ao ano. No Brasil, o setor cresce a uma média de 30% ao ano, com 25.000 produtores cadastrados e certificados (com o Ecocert) no Ministério da Agricultura, ocupando área de 1,1 milhão de hectares. O consumo interno cresce constantemente, mas o mercado europeu é alvo dos produtores nacionais.
Há muitas formas de se imaginar o paraíso. Uma delas é um lugar cheinho de chocolates (doces e amargos), com gosto pronunciado de cacau e cuidadosamente misturados com castanhas, café, quinoa ou morango. Nesse reino não podem faltar tâmaras (in natura, em pó ou em pasta); castanhas; pastas de amendoins; bebidas naturais (como chás, sucos verdes, à base de limão e hortelã, a cajuína – formulada com suco de caju e clarificante de gelatina, ou de arroz). Há também geleias, açaí e purê de frutas… E junto dessa explosão de aromas, cores e sabores, regados a mel, contemplando públicos tradicionais e veganos, os suplementos de B12, B9, magnésio, fósforo, probióticos e tantas novidades, como o cearense espumante de caju e o gaúcho vinagre de cana de açúcar. Misturados a cosméticos naturais, e pequenas cozinhas instaladas em bem arrumados espaços, com gente bonita e sorridente, por um momento nos levam a pensar que o paraíso muitas vezes deixa de ser hipótese para se materializar à frente de nossos olhos.
Assim foram as feiras Bio Brazil e Naturaltech, realizadas conjuntamente no Anhembi, em São Paulo, entre os dias 12 e 15 últimos. Maior evento do setor de produtos naturais e orgânicos na América Latina, ocupou espaço de 47 mil m² para acomodar 1.700 marcas de 760 expositores, mais de 140 horas de programação e 170 palestrantes. Chilenos, bolivianos, argentinos e gente de todo o país estiveram presentes na capital paulista para vender produtos, reafirmar conceitos e, claro, fazer muito networking.
Saúde global
Em 2023, as exportações do agronegócio brasileiro uma vez mais atingiram bons números, alcançando US$ 166,5 bilhões, o que representa um aumento de 4,8% em relação a 2022 – equivalente a US$ 7,7 bilhões de expansão.
O produto alimentar nacional, via agronegócio, foi responsável por 49% do total das exportações brasileiras em 2023, registrando incremento de 1,5% em relação aos 47,5% do ano anterior. No quesito orgânicos e naturais, o mercado europeu é um dos principais destinos das exportações brasileiras absorvendo aproximadamente 40% do total exportado.
Pesquisa realizada pela Organis, em parceria com Bio Brazil Fair e algumas outras empresas, em 2023, mostrou aumento de 16% no consumo de alimentos orgânicos em comparação com 2022 (suportado por 30% de aumento na produção, como dito anteriormente). O mesmo trabalho apurou que 50% dos consumidores de produtos orgânicos buscam uma saúde melhor através desse estilo de vida. Esse crescimento significativo pode ser explicado por vários fatores, como a maior conscientização sobre os benefícios para o corpo, meio ambiente e avanços tecnológicos na agricultura, pondera a organização da Nutritech (ou Naturaltech).
Segundo dados da Research and Markets (apurados em 2022), o mercado de produtos orgânicos no Brasil deve alcançar um valor de US$ 1,77 bilhão até 2026. Para se ter ideia do que isto representa, na safra de 2020/21 o Brasil exportou US$ 5,8 BI de café, para 115 países, segundo a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). Ainda que em 2026 o Brasil possa exportar US$ 8 BI do principal grão nacional (mera projeção), os orgânicos terão peso equivalente a 25% deste item da balança.
Para não se dizer coisas aleatórias, dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) indicam, oficialmente, que a população brasileira consome apenas cerca de 50% da quantidade recomendada de magnésio. Logo, a suplementação se torna uma ferramenta essencial para atingir as diretrizes nutricionais básicas.
Chocolate
Muitas vezes, parametrizar ajuda a entender a importância do negócio. O brasileiro consome (per capita) 32 Kg de arroz no ano, toma 6,8 litros de cachaça e bebe 68 litros de cerveja. Mas gasta pouco com a sobremesa ou com o alimento entre refeições, como o chocolate. São 3,9 Kg/ano, considerada uma média baixa.
Além de ser bastante apreciado por grande parte da população, no dia a dia, o chocolate também tem seu charme como presente (para diferentes e variadas intenções). E este misto de alimento, charme e novidade tomou conta dos expositores na Bio Brazil Fair / Nutritech.
A capixaba Espírito Cacau (que, aliás, estará presente no “Pod+ Empresas” do dia 2 de julho próximo, podcast que tem parceria do Jornal Empresas&Negócios) tem nada menos que 27 produtos hoje. São chocolates finos, com percentuais altos de cacau e esmero na produção. Conversar com o pessoal no estande é sempre uma aula sobre o produto. Às vezes sente-se um pouco de exagero na explicação do vendedor, mas a degustação parece mexer com o cérebro, liberando boas doses de dopamina, e uma sensação de prazer. E para quem gosta de sentir prazer, comer chocolate e tomar café – não necessariamente nesta ordem – um Espírito Cacau é ótima pedida.
Sensação idêntica sente-se ao degustar a goianiense Regalle. Marca que, a exemplo das demais de sua categoria, tem linha vegana (sem uso de substâncias animais). Na feira fez alguns lançamentos, com destaque para o chocolate com quinoa e tâmaras em pó. Pastas e granolas permearam o estande, atendendo mui gentilmente os visitantes.
Já na Ativius a exposição era para o suco de limão e hortelã, simplesmente irresistível. Em embalagem fechada (de 300g, ao preço próximo de R$ 200,00) estava a linha “My Greens”, composto com vitaminas B12 e B9, magnésio, fósforo e probióticos.
No estande da Bahia não faltaram apetitosos produtos também, mas a um preço pouco acima da média que vimos (R$ 30 a barra de chocolate de 80 g). Os gaúchos, que não desperdiçaram a chance, apresentaram novidades também, entre as quais o vinagre de cana de açúcar.
Os cearenses reuniram 10 cooperativas de diferentes regiões do Estado e montaram estande com apoio do governo estadual. Uma delícia a paçoca e as pastas de amendoim e de castanhas da dona Mônica Monteiro. Ali também estrearam a Cauína, espumante à base de caju, e a extraordinária Cajuína, bebida à base de caju também, com alto grau de frescor.
A Associação Brasileira da Indústria de Chocolates, Amendoim e Balas (Abicab) registrou 6% de crescimento, em 2023, sobre o ano anterior. Em conversa informal, tem fabricante apostando em crescimento de até 10% neste ano – comparado com o volume do ano passado. Sorte para os produtores e, lógico, para os vorazes consumidores também.
Esporte
Botafogo e Flamengo tem se revezado na liderança do Brasileirão (Campeonato Brasileiro de Futebol) deste ano. Será que tem a ver com a água que bebem? Possivelmente não, diretamente. Mas indiretamente sabe-se que jogadores são atletas e, como tal, têm preparo físico e orgânico dos melhores. A empresa “Oh, a água”, que prepara o líquido, com sistema de ultrapurificação, a partir de osmose reversa, integrando água e isotônico em uma mesma bebida, fornece para Botafogo (RJ), Flamengo (RJ), Remo e Paissandu (PA), entre outros, a “Oh”, durante os treinos e os jogos oficiais. E se não mexe com todo o time, pelo menos o Igor Coronado e o Carlos Miguel têm feito dela bom proveito, no Corinthians Paulista.
Cosméticos
Se o alimento orgânico faz bem para o organismo como um todo, a exemplo do que aponta estudo publicado pela Universidade de Barcelona (Espanha), de que o consumo destes impactou diretamente no metabolismo com diminuição do risco de diabetes tipo 2, de obesidade e de doenças cardíacas, além de elencar outros benefícios como melhora nas funções do intestino; nos sistemas imunológico e cognitivo, é aceitável que faça bem para a pele também. O estudo acima referido foi publicado em 2019, sob o título ‘Organic food and the impact on human health’ (Comida orgânica e o impacto na saúde humana).
Daí o crescimento do mercado de cosméticos naturais e orgânicos não impressionar. Em 2022, o tamanho global era de US$ 10,7 bilhões, projetando receita de US$ 16,5 BI até 2028, exibindo um CAGR (Taxa de Crescimento Anual Composta) de 7,5% durante o período de previsão (businessresearchinsights.com). Já o mercado global de cosméticos veganos está projetado para US$ 20,8 bilhões até o ano que vem (2025).
Arena / Badalação
Nessas ocasiões também não faltam eventos paralelos e/ou integrados, como ocorreu com a Arena do Conhecimento. Nela o palestrante Murilo Gun encantou a plateia, falando sobre o flow, “a dança entre o caos e a ordem”. Gun disse que, da mesma forma como ele precisou fazer uma mudança de rota e se reinventar, buscando uma vida mais leve, “todos nós podemos seguir o mesmo caminho”. Ele argumentou que se intitulava, com orgulho, um “hardworker”, ou seja, alguém que via como alternativa obrigatória o sofrimento, imaginando que as coisas para darem certo precisavam ser difíceis e árduas. Até que sua mulher o incentivou a fazer uma mudança e uma virada de chave em sua vida.
Em meio a um exército de nutricionistas, vendedores e gente de muitas outras atividades profissionais, desfilaram famosos da TV, como Ana Hickmann, Edu Guedes, o surfista Pedro Scooby e o chef Henrique Fogaça. A atriz Isabelli Fontana também esteve por lá, distribuindo boas doses de simpatia, a exemplo de Rodrigo HIbert.