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Consórcio de culturas eleva sustentabilidade e produtividade

em Agronegócio
terça-feira, 19 de novembro de 2024

A integração das lavouras de grãos e pastagem com braquiária em uma fazenda de Mato Grosso mostra-se um método eficiente, gerando benefícios econômicos e ambientais, além de transformar o solo em um aliado do produtor

O uso do consórcio agrícola ganha força no Brasil, especialmente em regiões de clima desafiador. A prática de plantar diferentes culturas na mesma área promete melhorar a saúde do solo, controlar pragas e ervas daninhas e, acima de tudo, aumentar a produtividade agrícola. A experiência de produtores locais mostra que esse método beneficia o meio ambiente e também proporciona uma economia significativa.

Em uma propriedade de 2.500 hectares em Jaciara, em Mato Grosso, o consórcio trouxe resultados expressivos para a produtividade e a sustentabilidade. A prática, que envolve o plantio simultâneo ou em sequência de culturas variadas, criou uma “palhada” de proteção no solo, reduzindo a temperatura e preservando a umidade. De acordo com Bruno Eduardo Cavamura, engenheiro agrônomo e representante de vendas da Sell Agro, responsável pela condução das lavouras, a palhada funciona como uma espécie de camada protetora, diminuindo em até 10 graus a temperatura do solo em épocas mais secas, o que ajuda a manter a umidade e a saúde das plantas.

Essa cobertura de solo é uma das grandes vantagens do consórcio. Ao criar uma barreira contra a luz solar direta, a palhada mantém a terra fresca e úmida, uma característica importante em regiões onde a precipitação é irregular. Estudos indicam que a retenção hídrica gerada pela integração pode resultar em ganhos de produtividade de 6 a 12 sacas de soja por hectare em anos de seca, variando conforme o talhão, um aumento significativo na rentabilidade. “Esse ganho faz toda a diferença no bolso, especialmente em períodos críticos”, destaca Cavamura.

Raízes profundas, maior nutrição
A braquiária, gramínea de raízes profundas que pode atingir até dois metros de profundidade, desempenha um papel central nesse sistema. Suas raízes ajudam a fixar carbono e reter nutrientes, contribuindo para a formação de matéria orgânica no solo. “É como se o solo tivesse uma vida própria: a braquiária, ao morrer, deixa raízes que se transformam em matéria orgânica e criam microporos essenciais para a estrutura e fertilidade do solo”, observa o engenheiro agrônomo. Esses microporos não só facilitam a infiltração de água, mas também melhoram a aeração, reduzindo a erosão e promovendo a retenção de umidade.

Esse processo de decomposição é essencial para a criação de uma estrutura que facilita a oxigenação e permite que a água alcance camadas mais profundas. A decomposição gradual das raízes cria canais naturais por onde a água percola no solo, evitando que a chuva escorra superficialmente e cause erosão. Assim, o solo fica mais preparado para enfrentar períodos de estiagem, com uma estrutura que armazena água para as culturas de maneira eficiente.

Redução de defensivos
Outro aspecto positivo do consórcio é a redução do uso de defensivos agrícolas. A rotação e diversidade de culturas, como a combinação de leguminosas (soja) com gramíneas (milho e braquiária), reduzem o ambiente favorável para pragas e doenças, o que diminui a necessidade de pesticidas. “Com menor pressão de pragas e ervas daninhas, o produtor pode economizar em produtos químicos, além de reduzir o impacto ambiental”, explica Cavamura.

A aplicação de defensivos agrícolas, inclusive, passou por uma revolução tecnológica nos últimos anos. Atualmente, a propriedade em Jaciara utiliza adjuvantes multifuncionais, que são produtos que otimizam a aplicação dos defensivos na calda, potencializando a absorção das plantas e reduzindo o volume necessário. “Com o uso de adjuvantes, conseguimos reduzir o volume de insumos aplicados, de 120 para 30 litros por hectare, um ganho impressionante em eficiência e economia”, relata Alexandre Gazoni, engenheiro agrônomo e diretor comercial da Sell Agro. A tecnologia também permite uma aplicação terrestre ou aérea mais precisa, incluindo o uso de drones, o que amplia as possibilidades de manejo e controle.

Além da eficiência, o adjuvante auxilia na ordem de mistura dos produtos aplicados, evitando reações indesejáveis que possam comprometer a eficácia dos defensivos. “Hoje em dia, a tecnologia nos ajuda a misturar vários produtos sem riscos de reações químicas prejudiciais, o que otimiza o manejo e os resultados na lavoura”, complementa Gazoni.

Maximizando o uso do solo
Em algumas propriedades, a estratégia vai além das culturas vegetais e integra também a pecuária. Nessas áreas, o gado é solto para pastejar sobre os resíduos das culturas, aproveitando o material remanescente, como espigas de milho deixadas no campo. Esse sistema de integração lavoura-pecuária promove uma economia circular, onde cada etapa maximiza o aproveitamento dos recursos disponíveis. A presença dos bois traz benefícios adicionais para o solo, ao promover a reciclagem de nutrientes e a fertilização natural da área.

Cavamura observa que, em anos de boas colheitas, os resíduos da colheita de milho são suficientes para alimentar o gado, gerando economia com rações e aproveitando uma ‘brecha’ no ciclo produtivo. “Essa integração é uma ferramenta valiosa para quem quer manter o solo fértil e obter retorno econômico em mais de uma frente”, destaca.

O manejo, aliado a tecnologias de ponta, revela-se uma estratégia essencial para a agricultura moderna, que precisa ser tanto produtiva quanto sustentável. Ao integrar práticas inovadoras com o respeito aos ciclos naturais, os produtores rurais estão construindo um futuro ainda mais promissor. “O consórcio é uma solução econômica e ambiental que beneficia a todos. Buscar tecnologia para aperfeiçoar o processo vai garantir melhores resultados. Esse é o caminho”, finaliza Gazoni.