Aparentemente existe uma enorme simpatia e boas intenções, entre os dois países, no avanço de conversas e novos negócios.
Da Redação
O comércio de produtos entre Brasil e Chile deverá crescer daqui por diante. Pelo menos esta é a expectativa do governo andino, que promoveu em São Paulo e, depois, em Belo Horizonte rodadas de negócios entre operadores deste comércio internacional e, antes, conversas na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) sobre investimentos lá e cá. Os eventos – ocorridos na semana que passou – aproximaram mais o Brasil de seu quinto maior parceiro comercial, com quem transaciona US$ 14 bilhões/ano. Nada mal se vermos que em 2021 o valor era de US$ 7 BI, mas existe um potencial a ser explorado, sobretudo na agricultura e pecuária. Ao jornal Empresas e Negócios a vice-ministra de Agricultura Ignácia Fernández disse apostar nesse avanço e seu colega Ricardo Moyano, adido agrícola da Embaixada chilena no Brasil, revelou que trabalha para melhorar (para eles) a proporção da balança comercial, que pende para o lado verde-amarelo em 60% / 40%.
A ProChile, instituição vinculada ao Ministério das Relações Exteriores daquele país, foi a promotora dessa tour de force procurando ampliar a base de negócios. Representantes dos dois países, que estiveram reunidos em hotel paulistano para o Seminário Segurança e Soberania Alimentar: Um Desafio Regional para a Internacionalização
, deram bastante destaque ao pequeno produtor rural, “os campesinos”, responsável pelo abastecimento interno no Chile e em grande parte do Brasil também. Em paralelo à inserção do agricultor familiar no sistema de produção, Ignácia Fernández mostrou-se também preocupada com a questão da sustentabilidade, discutida sob o espectro das mudanças climáticas. Para ela, o Chile está no bom caminho, tanto que no último ano expandiu sua agroexportação em 290%, elevando para US$ 28 BI a balança comercial. O Brasil, maior produtor mundial de soja, café, suco de laranja, açúcar e o segundo em carnes de boi e de frango, tem muito a ensinar aos hermanos que se esmeram na produção de vinho, frutas, hortaliças e pescados. Os campesinos chilenos são em número de 600 mil atualmente, e precisam melhorar a parte associativista para ganhar força no acesso ao crédito e facilidades para exportação – por exemplo.
Do ponto de vista da certificação de produtos, existe um acordo entre Brasil e Chile para que ambos sejam autossuficientes em relação ao parceiro. (Cabe destacar que no mercado internacional a certificação custa em média US$ 1.000 e fazendo internamente o custo pode cair um pouco). O brasileiro Allan Rogério de Alvarenga, secretário de Defesa Agropecuária do MAPA (Ministério da Agricultura e Pecuária), acentuou a preocupação do Brasil em termos de soberania (plantar e produzir o que quiser e como quiser) e segurança alimentar, de modo que ninguém passe fome e ainda haja um grande excedente para ser exportado para qualquer país, obedecendo aos mais exigentes padrões sanitários e confiabilidade. Com o Chile existe essa confiança mútua, na certificação, ilustrou. Ele falou de SIF (o famoso carimbo de Inspeção Federal), estabelecimentos registrados e fiscalização, tempo integral, por parte do MAPA e/ou entidades estaduais e municipais. “Às vezes se tem algum procedimento diferente, por questões religiosas, mas o nível de confiabilidade é o mesmo para todos os produtos vegetais e animais”, garantiu.
Os desafios internos foram colocados pelos países, demonstrando que existe grande sinergia entre ambos. Santiago Rojas (do Indap, órgão chileno equivalente ao Ministério do Desenvolvimento Agrário, do Brasil) falou das mudanças econômicas e sociais de toda a América Latina, desde os anos 1960, e os desafios dos tempos atuais. Um dos pontos no Chile – a exemplo do Brasil – é a fixação do homem na terra. “Temos 172 mil usuários do Indep hoje, buscando crédito, subsídios e maior participação na economia”, disse ele, acrescentando que apenas 7% desses agricultores têm menos de 35 anos. Rojas ainda destacou o interesse em aprofundar a discussão com o Brasil para a transição agrícola sustentável e revelou o esforço do país para a transversalidade de gênero. Já existem, nas 16 regiões chilenas, 23 Escolas de Lideranças de Mulheres Rurais.