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Os sons da floresta

em Artigos
sexta-feira, 28 de julho de 2017

Vladmir Stancati (*)

Conta uma antiga lenda oriental que um jovem discípulo, por orientação de seu mestre, teve que ir até a floresta e lá permanecer alguns dias, a fim de relatar, ao final da viagem, os sons que foi capaz de ouvir.

Ao término desta jornada, este rapaz dirigiu-se ao seu mestre e pôde mencionar a ele diversos sons: o rugido das feras, o cair da chuva, com a força de seus trovões, a água caindo pelas cascatas e o canto incessante dos pássaros.

O mestre, então, respondeu a ele que ele precisaria voltar, pois não havia sido capaz de escutar, verdadeiramente, todos os sons. O discípulo nada entendeu, mas, obediente, retornou à floresta, desta vez para permanecer mais dias.

Ao amanhecer de mais um dia, já ao final de sua jornada, teve um verdadeiro encantamento: pôde enfim, depois de muita concentração e atenção, detectar outros sons, bem mais sutis do que aqueles. Ele ouviu o ruído absolutamente particular do orvalho caindo, ele pôde “ouvir” o crescer das pequenas plantas e o pouso dos pequenos insetos.

Agora, sim, ele poderia retornar com a missão cumprida.

A história dos sons da floresta é bem ilustrativa do que acontece com o clima interno nas organizações. Muitas vezes, os gestores se dão conta, surpresos, ao final de uma pesquisa de clima, que o resultado ficou bem aquém daquele imaginado por eles, até mesmo porque, segundo afirmam, “todos se dão muito bem, as pessoas se cumprimentam e trabalham dando o melhor de si”.
Entretanto, esta visão pode não ser verdadeira.

O gestor eficaz está, assim como o discípulo, absolutamente concentrado em escutar, ativamente e profundamente, todos os sons. Se fizer isto, poderá promover correções de rota de maneira antecipada. Esta é uma verdade, igualmente, para todos os colaboradores. Os ouvidos precisam ser treinados, de fato, para ouvir. Porém, muitas vezes, não nos preparamos para isto. Em nossa sociedade, crescemos aprendendo que quem fala é quem detém o poder, e não quem escuta.

O bebê que mais chora é o que recebe mais atenção. Basta um pequeno exercício com um amigo para demonstrar isto: diga a ele que, jogando futebol ou vôlei no fim de semana, você se feriu, e ele lhe responderá que, jogando basquete na semana anterior, ele também se machucou.
Provavelmente, ele não lhe perguntará como foi a sua jogada, se o seu time ganhou, ou detalhes de sua experiência, mas irá querer lhe relatar a própria experiência dele. Precisamos estar atentos, permanentemente, ao outro e, por consequência, ao clima. Ele faz a diferença, na qualidade de vida das pessoas e no resultado das organizações.

Seguindo pesquisas recentes, pode impactar no esforço adicional dos colaboradores de uma empresa em até 50%.

(*) – Engenheiro mecânico formado pela FEI, especializado em Gestão de Qualidade e Controle Estatístico de Processos pela Poli/USP, pós-graduado em Gestão de Pessoas pela FGV e MBA pela Fundação Dom Cabral. É Diretor de RH da Festo e professor da FVG-SP.