Chega! Basta!
Você se impõe limites? Ou é do tipo que deixa a coisa rolar indefinidamente? Se responder: que depende, não é único.
Agimos conforme as circunstâncias, as motivações, os estímulos, as pulsões, as vontades, as potencialidades. E por aí vão algumas justificativas. Há pessoas que se abraçam em ideologias outras em economias. Umas são do tipo que querem um mundo melhor, mais justo, equânime. Outras em acumular sabedoria, conhecimento, prazeres, dinheiro, sucesso e fama. Como dizia um mestre que tive: tem gente para todo gosto.
Umas incorporam em suas lutas ideias altruístas, como se fosse uma missão de vida. Vemos pessoas abnegadas, despojadas de interesses que mergulham de cabeça para defender ou se oferecer ao serviço de uma causa. Particularmente, tenho receio dos extremistas desse grupo, quando têm uma visão deturpada de seus objetivos. Mas, o mundo fica melhor com pessoas que querem fazer o bem.
Um grupo oposto, ou sabe-se lá onde se encontra, são os que não querem nada com nada. É aquele grupo que pensa somente nos assuntos que lhes interessam. Pensam: “se é para nos beneficiar, iremos resolver”. Ou “se não der algum resultado positivo ou lucrativo, não iremos em frente”. Afinal, por que se preocupar?
Portanto, a tal hora do basta é sempre relativa. Pergunte-se: sabe afirmar quando algo lhe convém? Fica difícil dizer quando isso irá ocorrer. Com que determinados assuntos irei me chatear? Claro, que quanto mais detalhes acrescentarmos ao enredo, mais fácil fica de dizer se estaremos ou não dando um chega para lá numa situação. Por exemplo: se aparecesse um sujeito insistente tentando vender um carnezinho de uma loja de artigos para casa, você aceitaria ou daria um basta? Diria: “Isso eu não quero!”.
Vamos complicar os cenários. Não saber dizer não ou não ter noção de quando dar um basta, pode ser fatal. Dependerá das situações que conseguirmos compreender. Um assunto que pede nossa atuação, quando se exigem boas escolhas, e não sabemos o que propor. O que se pode esperar? Uma escolha errada, não é? Pois é, quero dizer: quando precisamos dizer não, e acabamos escolhendo quem a gente não quer. Não soube dizer não. Deveria ter dito:
“Basta. Eu quero uma coisa melhor para mim”.
Geralmente nos sentimos como dito na linguagem comum: “enrolando para não tomar uma decisão definitiva”. E até quando continuaremos postergando? Às vezes, passa-se uma vida toda esperando por uma boa solução que nunca virá. Por que não sabemos como resolver, como por exemplo: uma alta carga de impostos, um estado inchado e que presta serviços sem qualidade ou desmotivado, um sistema político corrompido, onde não para entender que possa haver quem dê aval a ditadores, e por aí vão situações que precisam de um sonoro basta!
Poderíamos ser mais participativos em algumas questões políticas e sociais. Essa apatia pode ser um desvio de personalidade coletivo que precisa ser, no mínimo, avaliado e corrigido.
(*) – Escritor, Mestre em Direitos Humanos e Doutorando em Direito e Ciências Sociais. E-mail: ([email protected]).