Arthur Schuler da Igreja (*)
”No Brasil, até o passado é incerto’’. A frase do ex-ministro da fazenda Pedro Malan define o risco em se fazer prognósticos neste momento.
Contudo, estou certo de que o leitor concorda que na instável tempestade é melhor contar com uma bússola, mesmo que imprecisa. Após passar pela pior recessão da história brasileira (sim, o efeito total é maior do que qualquer coisa que tenhamos passado na década perdida de 1980), estou certo de que o pior já passou. Muitos foram pegos de surpresa no início de 2015, mas a situação macroeconômica já se agravava severamente desde 2014.
No início de 2016, o governo colheu o resultado de anos de seu completo desastre: inflação e desemprego acima de dois dígitos, economia encolhendo, necessidade de aumento da taxa de juros e grave crise fiscal.
Atualmente temos inflação controlada e rumando ao centro da meta, menor intervenção cambial pelo Banco Central e a busca pelo equilíbrio fiscal, no âmbito federal pelo menos. Nesta conjuntura, devemos encerrar 2017 com crescimento próximo a 0.5%,
O emprego deve voltar no segundo semestre. Precisamos deste impulso já que muitas famílias têm hoje desempregados e, ou inadimplentes. Segundo levantamento do Fecomercio, o Paraná lidera o ranking de famílias endividadas, com a maior parte comprometidas com cartões de crédito ou de lojas. Não será por novos artificiais estímulos de crédito que teremos uma recuperação sustentável.
No radar, temos o potencial bombástico da delação da Odebrecht, o processo do TSE contra a chapa Dilma-Temer e o avanço da Lava-Jato. Estes temas são muito delicados e a inesperada morte do ministro Teori Zavascki deve trazer alguma lentidão no curto prazo.
O governo Temer tem se beneficiado da impopularidade para tocar em feridas doloridas, tais como teto dos gatos, previdência e reforma trabalhista, e tudo isso em um período de meses. Precisamos ainda da reforma tributária (emergencialmente). Não acredito que haverá tempo hábil e clima para a reforma política. Mesmo que contestado, espero que Temer termine seu mandado e não tenha aspirações de emplacar seu sucessor.
Tudo que o Brasil precisa é de estabilidade e previsibilidade. Acredito que a recuperação já está em andamento, mais lenta do que gostaríamos, mas temos finalmente um norte. Que 2017 e 2018 sejam anos de estabilização e que grandes administradores se postulem à presidência, senado e governo estadual em 2018. Que a centralização de Brasília cumpra sua função de alegoria representativa na geografia, não o símbolo de um país refém de um governo protagonista e descontrolado.
Por fim, este é o cenário disponível, de nada resolve atribuir a ele seus resultados pessoais. Entenda as condições e adapte-se, que 2017 seja incrível, mas ainda depende de você.
(*) – É conselheiro estratégico da SetaDigital e professor da FGV-RJ (www.setadigital.com.br).