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PT deixa o poder após 13 anos com avanços sociais e economia debilitada

em Especial
quarta-feira, 31 de agosto de 2016
Wisom Dias/ABr

PT deixa o poder após 13 anos com avanços sociais e economia debilitada

Chegou ao fim ontem (31) o julgamento do processo de impeachment da presidenta Dilma Rousseff, no Senado. Com isso, também se encerra um período de 13 anos consecutivos em que o Partido dos Trabalhadores esteve no poder

Wisom Dias/ABr

A presidente, agora afastada e definitivo, Dilma Rousseff, ao fazer sua defesa durante sessão de julgamento do impeachment no Senado.

Eleito por quatro mandatos sucessivos, o PT deixa o protagonismo nacional após consagrar-se como primeiro partido de esquerda a chegar ao poder após a redemocratização do país. Sai de cena com altos índices de desaprovação e marcado por escândalos de corrupção, mas também carrega bons resultados na área social e no combate à desigualdade. Na avaliação da professora de economia da FGV, Virena Matesco, o primeiro mandato do governo Lula foi marcado por uma continuidade da política macroeconômica estabelecida por FHC.

O campo foi conduzido inicialmente com base em um tripé, que considerava a meta fiscal, com a Lei de Responsabilidade Fiscal orientando estados, municípios e União a gerar superavit primário, proibindo entes de gastar mais do que é arrecadado no Orçamento. Além da meta fiscal, foram estabelecidas metas para inflação e câmbio flutuante. Para ela, a política macroeconômica do último período da gestão petista, sob a gestão de Dilma Rousseff, foi um ‘desastre’.

“O rompimento do fundamento da economia no governo Dilma, associado a uma política heterodoxa da economia, com o congelamento de preços administrados, que é luz, água, tarifas públicas, combustível, associado ao descontrole nas contas públicas do país, levou o país a um total desastre. Não é uma questão de ideologia, é uma questão de administração”, argumentou.

Entretanto, para o professor do Instituto de Economia, do Centro de Conjuntura da Unicamp, Francisco Luiz Lopreto, a crise que levou à queda do PT no poder foi, em grande parte, produzida pela atuação da própria política brasileira. “A partir da eleição de Dilma para o segundo mandato, há uma turbulência política que alterou completamente e contaminou todos os indicadores [econômicos] e, em grande medida, tem o reflexo da rixa política que se criou na eleição e isso influenciou diretamente todos os índices porque houve uma suspensão [do governo], as expectativas foram contaminadas”, diz.

O professor da área de finanças públicas da UnB, Roberto Bocaccio Piscitelli aponta que o maior legado da gestão petista foi a ascensão de classes promovidas pelas políticas dos governos petistas. No início do governo, o Índice de Gini, parâmetro internacional para medição de miséria, era de 0,589. Atualmente, o índice está em 0,518. A taxa varia de 0 a 1 e quanto mais próximo a 1, menos distribuição de renda há no país.

“Como houve um crescimento, mesmo que moderado da economia, não se pode dizer que alguém saiu perdendo. Houve uma redução da pobreza. Do ponto de vista econômico, houve uma emergência de classes, rendas mais altas e melhoria de vida com acesso a bens de consumo”, explica.

Os presidentes Renan Calheiros, do Senado, e Ricardo Lewandowski, do STF, na sessão para votar processo de impeachment da presidenta afastada, Dilma Rousseff.O Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro no início do mandato petista, em 2003, era de 2,7%. O índice ganha corpo nos dois mandatos de Lula, mas retrocede na gestão de Dilma Rousseff, e apesar do ápice de 7,6% em 2010, volta a taxas menores no curso de seu governo. Já no final da gestão, é registrado o menor valor do período, um percentual negativo de -3,8%. De acordo com a avaliação de Virena Matesco, a estabilidade econômica da gestão petista foi mantida até 2010, quando o incentivo ao crédito facilitou o acesso ao dinheiro, com mais disponibilidade de recursos para empréstimo e, assim, houve uma disparada da inflação.

Para segurar a inflação, o Banco Central aumentou a taxa de juros e o governo segurou preços administrados, como energia elétrica e combustíveis. “Quando Dilma começa a baixar os juros, sinaliza que não vai dar grande atenção para inflação. A política fiscal e a política monetária serão expansionistas, com crédito em abundância, passa-se a focar consumo e aumentam gastos do governo. Então vai baixar os juros e a inflação começa a subir. O governo vai combater a inflação congelando preços – começa a ter problemas nas empresas de serviços e bens de utilidade pública. Começa uma sucessão de erros. E já começam umas discussões de corrupção”, diz.

PT 1 temporarioUma das principais bandeiras do governo Dilma, o pleno emprego, acabou se tornando um problema crucial para a gestão petista no final de seu mandato. O índice de desemprego, que chegou a atingir 4,8% em 2014, voltou aos níveis encontrados no início do mandato PT (12,3%, em 2003). A equipe econômica de Dilma Rousseff chegou a adotar medidas para evitar que a crise chegasse ao mercado de trabalhado Apesar dos esforços, em julho deste ano, a taxa de desemprego alcançou 11,6%, atingindo 11,8 milhões de pessoas.

Apesar de a remuneração média do trabalhador brasileiro ter aumentando, o crescimento da inflação no último período da gestão petista fez com que a renda perdesse seu potencial de compra. Diferentemente da política de salário mínimo, que prevê aumento anual real na remuneração do trabalhador, a renda média não registrou o mesmo aumento diante da inflação. No início do mandato do presidente Lula, o valor alcançou R$ 1.029,59, segundo o Pnad. Em 2014, último ano divulgado, o valor chega a R$ 1.737,13.

PT 2 temporarioA presidente executiva do Movimento Todos pela Educação, Priscila Cruz ressaltou que os resultados das políticas desenvolvidas pelo governo ainda são “tímidos”. “Temos o Ciência sem Fronteiras, investimos muito num programa e a execução deixou a desejar. Foi muito recurso, mas um resultado muito questionável.”, diz. “O Fies teve inclusão, mas não teve qualidade. Foi um recurso que as universidades privadas se beneficiaram muito, mas não entregaram a qualidade esperada. Faltou regulação, fiscalização. Mesma coisa o ProUni, avançou muito na matricula, mas o ensino superior não conseguiu avançar muito na qualidade”, avalia.

O ensino médio foi um dos aspectos em que a política educacional petista não conseguiu evoluir como esperado. Nesta etapa, ainda há um deficit de 1,6 milhão de matrículas para que haja a completa universalização de alunos em sala de aula (ABr).