Reinaldo Dias (*)
Nas análises sobre a temática energética, além dos benefícios às atuais gerações são incluídas as perdas para as gerações futuras.
A Conferência do Clima da ONU realizada em Paris, em dezembro de 2015, terminou em um acordo histórico no qual praticamente todos os países do mundo (195) se comprometeram a desenvolver e colocar em prática, planos de redução das emissões de gases que provocam o efeito estufa (GEE). O objetivo pretendido é conseguir que a temperatura do planeta não aumente mais que 2º.C até o final deste século em relação aos níveis pré-industriais.
Para que a meta proposta seja atendida em termos globais é fundamental a não utilização de combustíveis fósseis na geração de energia, e acelerar a utilização de fontes renováveis como a hídrica, solar e a eólica.
No caso brasileiro, o sistema energético é abastecido predominantemente por energia proveniente de fonte renovável de usinas hidrelétricas, o que é positivo do ponto de vista do aquecimento global. No entanto, essa energia não é tão limpa quanto aparenta e seus impactos negativos ao meio ambiente são cada vez mais destacados, como o alagamento de terras indígenas e a destruição de ecossistemas ainda mal explorados.
Provavelmente a recusa de licença ambiental para a Usina Hidrelétrica de São Luiz de Tapajós seja o marco inicial de uma discussão que redirecionará o abastecimento de energia no Brasil. Entre os principais motivos para a negação da licença ambiental estão o não esclarecimento a respeito de quais seriam as consequências para a fauna e a inundação de terras, em particular, a dos índios mundurucus.
O aumento da importância da dimensão social e ambiental em relação ao aspecto econômico na discussão de questões energéticas coloca o debate num novo patamar balizado pelo desenvolvimento sustentável e a necessidade de deter o avanço do aquecimento global. Não se admite mais considerar somente o aspecto econômico, caracterizado pelo discurso desenvolvimentista. Nas análises sobre a temática energética, além dos benefícios às atuais gerações são incluídas as perdas para as gerações futuras.
O processo de discussão aberto pela recusa da licença ambiental da Usina de Tapajós deverá questionar o represamento de grandes rios para a construção de empreendimentos que provoquem grandes impactos ambientais e sociais, o que resultará que esse tipo de obra terá muita dificuldade de ocorrer no Brasil em futuro próximo.
Como as mudanças climáticas são um dos principais desafios para o desenvolvimento sustentável, não há como considerar a possibilidade de aproveitamento de fontes não renováveis como as usinas termoelétricas. Assim, o único caminho possível é utilizar fontes renováveis alternativas às hidrelétricas, como a eólica e a solar, tornando-as mais eficientes e competitivas.
Mas para que isso ocorra com sucesso serão necessários novos investimentos em pesquisa voltados para as necessidades do sistema energético, como a melhoria de eficiência nos processos já existentes e a criação de redes energéticas inteligentes que possam integrar as diversas modalidades (eólica, solar, hídrica) desde a produção até o consumo.
Há um único caminho sensato a percorrer no futuro, que é a política energética descartar gradativamente, tanto a utilização de combustíveis fósseis como a construção de gigantescas usinas hidrelétricas. O déficit energético deverá ser cada vez mais, suprido pela geração de energia propiciada pelas fontes renováveis que atualmente já atendem a região nordeste, reforçando a possibilidade de um equilíbrio na utilização das diversas fontes.
(*) – Doutor em Ciências Sociais, Mestre em Ciência Política pela Unicamp e especialista em Ciências Ambientais, é professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie/Campinas.