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em Opinião
quinta-feira, 30 de junho de 2016

Heródoto Barbeiro (*)

Há um mantra que se sobressai de todos os outros na gestão de empresas: é preciso inovar sempre.

De cada nove gurus com livros na banca dos mais vendidos, dez apontam as fórmulas do sucesso. É tanto sucesso que ninguém mais pode reclamar que não chegou lá. Basta comprar alguns exemplares, ler rapidamente e pronto. Em questão de semana vai de peão a chefe de turma. De gerente a diretor. De diretor a acionista da empresa. Com tanta facilidade apresentada não há como dar errado.

Os autores são especialistas em sacadas geniais, e títulos atraentes para o pacote de papel que vai melhorar a vida do leitor e, mais uma vez, ensinar-lhe que se deve fazer aquilo que gosta, que deve continuar na empresa que o faz feliz, que o problema não é aderir as novas propostas, mas abandonar as velhas.

Assim se comportam como verdadeiros lamas do mundo dos negócios, entoando os mantras em palestras, treinamentos, ou encontros de casais. Os títulos se sobrepõem: o mais recente e o de grande sucesso na mesma capa. Uma técnica que as editoras descobriram para chamar a atenção do consumidor seja na loja do shopping, seja no aeroporto.

Os que gostam de história, professores ou não, conhecem o que inovou no passado e mudou a história de uma empresa, de um país, de um método científico ou da própria humanidade. O aprendizado da plantação e colheita do trigo selvagem na beirada dos rios tirou o homem do nomadismo e o fixou nas antigas civilizações hidráulicas. Nunca mais a humanidade foi a mesma, e isto ocorreu há uns 8 mil anos antes de Cristo.

O mestre Philip Kotler, obviamente, é daqueles que realmente inovaram em suas recomendações corporativas. Propôs que o pensamento dos gestores deve ser disruptivo, ou seja identificar o que pode ameaçar o negócio, seja ele uma loja, uma vendedora de acarajé, uma rede de supermercados ou uma emissora de tevê. Como uma empresa não sobrevive se não mudar, não resta outra alternativa senão procurar de onde vem a ameaça.

Pode ser a Kodak, Polaroid, Invictus, Douglas, Mappin ou qualquer outra que não entendeu os sinais de mudança e não conseguiu manter o domínio do mercado. Kotler lembra que nos anos 1950 havia uma miríade de fabricantes de bonecas, batendo cabeça um no outro. Até que uma empresa inovou e criou a Barbie. Ele sentencia: quanto mais inovador for o negócio, mais lucrativo será.

Recentemente as três maiores produtoras de refrigerantes adocicados do Brasil, Coca, Ambev e Pepsi, decidiram que não vão mais vender em escolas de crianças. Uma ação louvável, e que dá admirabilidade às suas marcas. Contudo elas possuem uma gama de outros produtos para serem vendidos nas mesmas escolas .Ganharam imagem e não vão perder dinheiro.

Inovar pode ser o passo salvador, mas quem vai pendurar o guizo no pescoço do gato? Quem vai assumir o risco de trocar o que está dando certo no presente por algo que pode dar certo no futuro? Quem vai arriscar seu cargo, status, participação nos reultados, aduladores do seu ego? Talvez essa seja a questão crucial no mundo das inovações: quem vai assumir? Quem vai pôr o pescoço na guilhotina?

Alguns que passaram por essa experiência, e sobreviveram, dizem que é verdade: foram ridicularizados quando apresentaram suas propostas, depois foram rebaixados ou submetidos a humilhação, e finalmente quando a ideia deu certo, apareceram os pais. Já se disse que a vitória tem muitos pais, a derrota é órfã.

O mestre Paulo Freire ensinou que mudar é difícil, mas não é impossível.

(*) – É jornalista, âncora do Jr News e editor do Blog do Barbeiro ([email protected]).