Atrapalhar
Essa é uma modalidade muito praticada na atualidade. Sabe-se que quando a Polícia Federal prende preventivamente um suspeito, entre outras razões, está querendo dizer que o faz para que este não prejudique as investigações.
Mas, analisando o que é atrapalhar, descobrimos que há um ato criminoso oculto em si, propriamente falando, que é para causar dano, enganar, ou confundir estruturas montadas. Vejamos o que seria esse esquema criminoso. Uma atividade que se faz ou articula para fraudar, subtrair, lograr, roubar, trapacear, confundir, desfalcar, e muitos outros verbos analíticos, de preferência sem que seja percebido ou que seja descoberto.
É um ato que tem ousadia, é coisa de gente astuta, capciosa, em que o espetacular é a sua capacidade em dizer que foi o outro que fez, só para chamar a atenção e, com isso, desviar o foco. Há uma arquitetura de esquemas que não podem deixar dúvidas que o que está sendo feito é parecido com o normal, mas no fundo é fraude ou outro crime sendo praticado. Quem atrapalha sabe que faz aquilo para se dar bem, ou para dificultar ser descoberto.
O mágico tira de letra. Faz na nossa frente à troca das cartas e não percebemos. Nas caixas de mágicas descobre-se o truque: “enquanto uma mão abana no nosso nariz a outra, com habilidade de manipular os dedos, esconde a carta despercebida. É isso que o fraudador faz. Ele cria mecanismos para chamar a atenção em um assunto, e continua agindo em outro. Não preciso e nem quero citar casos, estão bem documentados pelas mídias: as de direita falam do que as de esquerda andam fazendo e as de esquerda os que as de direita também fazem.
Ou seja, não importa a ideologia: querer atrapalhar e tirar vantagem da coisa pública é característica do sujeito que detém além o poder a falta de caráter. A ordem é ganhar a qualquer custo, e não ser descoberto.
Por que, quando for apanhado, vamos dizer que não era bem assim que o que se vê são versões e os fatos são outros. Ou seja, o discurso é para atrapalhar a compreensão do que se vê. Tentam nos fazer acreditar que tudo que presenciamos era da nossa mente, que ninguém estava querendo enganar as pessoas. E tente dizer o contrário.
Há uma situação que ilustra o que quero afirmar: a mulher dá um flagra no quarto do motel, seu marido nu na cama com sua melhor amiga. Diz estarrecida: “você está me traindo?” O marido, e a outra já se vestindo rapidamente, responde: “não é isso que você está pensando”.
Há toda uma desordem que precisa ser orquestrada para mostrar que os injustiçados têm razão. E que nós, os relativamente honestos ou normais, é que sofremos da percepção da realidade. Nós é que não os compreendemos. Afinal, eles estão sempre fazendo a coisa certa para eles nos bastidores.
Nós é que atrapalhamos essa boquinha.
(*) – Escritor, Mestre em Direitos Humanos e Doutorando em Direito e Ciências Sociais. Site: (www.marioenzio.com.br).