Luiz Alexandre Castanha (*)
A história da liderança é antiga. A famosa múmia Otzi, encontrada em 1991 nos Alpes Orientais, viveu a cerca de 5300 anos atrás e morreu com uma flecha acertada no ombro.
A história dos nossos antepassados retrata que a luta pela sobrevivência sempre existiu. Os mais fortes vencem, se destacam e se tornam líderes. São eles que definem quem morre e quem fica vivo. O conceito de liderança começa com a guerra, demonstrando que os mais fortes sobrevivem, ocupam territórios, ganham credibilidade e com isso conquistam liderados.
Com o passar dos anos e a evolução da nossa espécie, esse conceito ressalta a capacidade de alguns indivíduos comoverem, inspirarem e mobilizarem outras pessoas, de forma a caminharem juntos na busca do mesmo objetivo.
Independentemente de quais sejam seus ideais, os grandes líderes deixam sua marca pessoal na história e são hoje essenciais para um bom funcionamento e sucesso das empresas em todo o ambiente corporativo.
Por acreditarem que os líderes já nascem com a habilidade de liderar, muitos se esquecem que a liderança, não só pode como deve, ser desenvolvida dentro das empresas. Nem sempre as pessoas que têm perfil para liderar sabem disso ou conseguem colocar sua aptidão em prática. E saber identificar funcionários com esse perfil nas organizações tornou-se, atualmente, um fator relevante para o seu sucesso nos negócios.
Um dos principais desafios das empresas é o de como selecionar, formar, criar e manter essas pessoas na organização. Nos tempos da Revolução Industrial, aprendeu-se a separar o pensar do fazer. As estratégias de execução foram devidamente separadas e escalonadas para aumentar a produtividade empresarial. Já hoje, na Era do Conhecimento, as organizações precisam da criatividade e habilidade humana em todos os níveis para serem realmente competitivas. Em vez de poucos líderes no topo da pirâmide como no passado, as empresas passaram a necessitar de muitos líderes em todas as áreas.
A disponibilidade de líderes eficazes e, não mais apenas funcionários eficientes, passou a ser um dos maiores fatores a distinguir as empresas vencedoras. Mas como saber identificá-los? Diferente do que muitos pensam, líderes não são, necessariamente, os que falam mais, os que mais aparecem ou batem as maiores metas. Verdadeiros líderes têm a sua influência reconhecida pelos seus liderados, que veem neles o reflexo de seus valores motivacionais na busca de resultados.
Cabe aos gestores, saberem identificar certas características de liderança entre os seus funcionários. A propensão inata para liderar, a agilidade para aprendizado, valores como compreensão, humildade para reconhecer erros, boa adaptabilidade, habilidade para lidar com situações adversas, a autenticidade no comportamento e valores, além de saber dar e receber feedbacks. Essas são algumas das características que todo potencial à líder possui e que podem ser facilmente identificadas pelos superiores e outros funcionários.
Porém, a verdade é que não adianta apenas saber identificá-los e acreditar que serão futuros líderes. Nos meus diversos anos trabalhando com treinamento dentro de empresas, descobri que são poucas as organizações que tem um programa sistemático e permanente de desenvolvimento de líderes.
Ram Charan, autor do livro “Pipeline de Liderança” fala que muitas vezes as empresas não percebem que não basta desenvolver uma estratégia eficaz de negócios sem focar na atuação de seus líderes. Por isso, sugere uma ideia na qual acredito muito: desenvolver um Pipeline, que seria, basicamente, estabelecer estratégias condutoras de potenciais líderes. Isso, desde sendo um “contribuidor individual” – aquele que apenas recebe e executa tarefas – até o mais alto nível de liderança.
Cada passagem do Pipeline requer que as pessoas adquiram uma nova forma de gerir e liderar, deixando para trás as formas de exercer suas atribuições anteriores. Charan, assim como eu, acredita que é possível desenvolver as lideranças dentro da companhia. O desafio não é apenas montar um programa, mas criar uma cultura que inspire as futuras lideranças, acrescentando aprendizados importantes para a organização e, ao mesmo tempo, tornando-as verdadeiros cúmplices e disseminadores da cultura da empresa.
Cursos padrões com palestras e reuniões não costumam ser eficazes para isso. Afinal, o conhecimento técnico não é o que mais define um líder. É muito mais uma questão de atitude e comportamento. Se as características que citei anteriormente estiverem presentes em alguns funcionários, a melhor forma de incentivá-los é desenvolver cada vez mais suas habilidades e, principalmente, dar a eles autonomia para agir e inovar na organização.
Saber identificar e desenvolver adequadamente os líderes dentro de uma empresa é um desafio, mas chave essencial para o sucesso e desenvolvimento do negócio. Afinal, a flecha que matou Otzi a quase 6 mil anos atrás, não é mais capaz de fazer muito estrago hoje. Mas as flechas de antigamente são o mercado atual e, esse sim tem o poder de te ferir pelas costas, a menos que um bom líder esteja no comando.
(*) – É administrador de Empresas com especialização em Gestão de Conhecimento e Storytelling aplicado a Educação, atua em cargos executivos na área de Educação há mais de 10 anos.