O ÓPTIMO ACTO DE ADOPTAR OBJECÇÕES
– IGNÁCIO BAPTISTA DE ASSUMPÇÃO!
– PROMPTO!!!
Esta é uma antiga gracinha (então chamada “chiste”) que se fazia em relação às palavras que, até então, possuíam consoantes mudas. Outra brincadeira comum era esta:
– P não soa em BAPTISTA, mas em JOÃO, PESSOA!
Estamos diante dos casos, como visto acima, de consoantes mudas, isto é, que se fazem presentes na escrita – no Português (ou português) de Portugal – mas não são pronunciadas. Uma relação mais ampla, trará: acção, abstracção, accionar, actual, baptizar, directo, director, Egipto, tecto etc. Pelo novo acordo, elas deixam de ser grafadas, como já acontece no Brasil: ação, abstração, acionar, atual, batizar, direto, diretor, Egito.
Entretanto, há também o grupo das consoantes mudas pronunciadas, que recebem outro tratamento: sua presença na escrita é facultativa (palavra cuja origem é o latim facultas, facultatis, que se vincula a vontade, disposição própria). Nesse caso, não haverá briga entre as escritas de cá e de lá: ambas são aceitas como corretas: facto ou fato; sector ou setor, carácter ou caráter, amnistia ou anistia, sumptuoso ou suntuoso; excepcional ou excecional; concepção ou conceçao; peremptório ou perentório, assumpção ou assunção, aspecto ou aspecto; ceptro, ou cetro; corrupto ou corruto; recepção ou receção; subtil ou sutil; amígdala ou amídala; idemnizar ou indenizar; omnipotente ou onipotente; omnisciente ou onisciente; infeccioso ou infecioso; dicção ou dição; decepcionar ou dececionar; súbdito ou súdito; aritmética ou arimética.
Ficam nessa área cinzenta do emprego facultativo, os casos de acentuação “consagrados pelas duas ortografias oficiais”: econômico ou económico; acadêmico ou académico; fêmur ou fémur; bebê ou bebé; canapê ou canapé; matinê ou matiné; purê ou puré; judô ou judo; metrô ou metro; sumô ou sumo; Antônio ou António; prêmio ou prémio; gênero ou gênero; fenômeno ou fenómeno; bônus ou bónus; sêmen ou sémen; Fênix ou Fénix; ônix ou ónix; oxigênio ou oxigénio; sinfônico ou sinfónico; tênis ou ténis; cômico ou cómico; guichê ou guiché.
Facultativa também é a acentuação das formas conjugadas dos verbos terminados em guar, quar e quir:
averiguo ou averíguo; averigua ou averíguas; enxáguo ou enxaguo; enxáguam ou enxáguam; enxágue ou enxague; águo ou aguo; obliquo ou oblíquo; apaziguo ou apazíguo; delínque ou delinque; apropinguo ou apropinquo.
E para complicar um pouquinho mais – e também enfear – admite-se a variação da conjugação de verbos terminados em IAR, provenientes de substantivos terminados em IA ou IO átonos:
Negocio ou negoceio (de negócio); premio ou premeio (de prêmio); calunio ou caluneio (de calúnia); conferencio ou conferenceio (de conferência); compendio ou compendeio (de compêndio); influencio ou influenceio (de influência); principio ou principeio (de princípio); penitencio ou penitenceio (de penitência); medeio ou medio (de médio); anseio ou ansio (de ânsia); remedeio ou remédio (de remédio); incendeio ou incendio (de incêndio); odeio ou odio (de ódio).
E para fechar, passa a ser igualmente facultativo o emprego dos acentos agudo e circunflexo nas seguintes palavras homógrafas (nada mais nada menos que o acento diferencial):
Dêmos (1ª pessoa do plural do presente do subjuntivo) e demos (1ª pessoa do plural do pretérito perfeito do indicativo); fôrma ou forma (substantivo) e forma (substantivo, 3ª pessoa do singular do presente do indicativo ou 2ª pessoa do singular do imperativo afirmativo); amámos e demais formas verbais da primeira conjugação; ou amamos e demais formas verbais da primeira conjugação (1ª pessoa do plural do presente do indicativo).
Esta pequena mostra permite avaliar quão difícil e lenta há de ser (e não mais há-de ser) a assimilação no dia a dia (e não mais dia-a-dia) desse conjunto de regras conflitantes e complexas. Vai haver muito bateboca (antes era bate-boca…) entre os mandachuvas (não mais manda-chuvas) do universo escolar e extraescolar (e não mais, como antes, extra-escolar), sem que haja parachoque (e não pára-choque) que aguente (pois é, antes seria agüente)!
J. B. Oliveira é Consultor de Empresas, Professor Universitário, Advogado e Jornalista. É Autor do livro “Falar Bem é Bem Fácil”, e membro da Academia Cristã de Letras. – www.jboliveira.com.br – [email protected].