Ivo Carraro (*)
“Seu gato, qual desses três caminhos eu pego para sair daqui?”, a menina pergunta. E o gato diz: ‘’aonde você quer ir?’’. ‘’Não sei’’, ela responde. ‘’Então pega qualquer um’’.
Não precisa conhecer a história de Alice no País das Maravilhas para entender o recado. É muito difícil um vestibulando encontrar motivação para estudar, se não sabe sequer a profissão que pretende seguir. Os pais, muitas vezes, agem errado, de forma inconsciente. Talvez porque eles queiram, de uma forma até psicanalítica, que o filho realize um desejo que eles não conseguiram realizar. No dia da formatura, o jovem recebe o canudo e aponta para a plateia, onde está a família. Isso pode dizer duas coisas: “duvidou de mim, né? Mas estou aqui!” – ou pior – “toma, isso aqui é teu. Agora, vou cuidar da minha vida”.
Escuto muito, quando o aluno faz a orientação comigo, monta um projeto de vida e diz: “o meu pai precisa saber disso, minha mãe precisa saber disso, você me deu uma autorização para dialogar com eles, uma segurança de que eu posso seguir esse meu caminho”.
Mas a receita para a escolha da profissão não é tão simples como dividir entre exatas, humanas e biológicas e optar por um dos cursos oferecidos, baseado nas disciplinas que mais lhe agradam. Esse é um bom começo, mas não é tudo.
Com esse parâmetro, podemos conduzir o estudante para uma atividade de acordo com a sua inteligência. Há uma lei da neurociência que diz: ‘’eu sou hoje o que o meu cérebro é naquilo que se transformou pela prática”. Por exemplo, ninguém aprende a nadar ou andar de bicicleta, lendo. São habilidades que se desenvolvem. Então o jovem direciona a sua inteligência para uma atividade e desenvolve essa inteligência porque ele gosta daquilo que faz – e essa inteligência expande. A prática é a educação – e a educação é mostrar caminhos.
Para isso, eu peguei um caderno e uma caneta e fui a campo falar com profissionais bem-sucedidos – médicos, engenheiros civis, advogados, jornalistas, biólogos, professores – e perguntei o que um jovem deve ter como característica pessoal para se transformar em um profissional bem-sucedido como eles. Que prática o jovem deve ter? E todos eles me disseram: ‘’para ser um profissional bem-sucedido, precisa gostar da profissão’’.
Então busquei na neurociência as leis do cérebro, para que isso pudesse me ajudar, e uma dessas leis é a motivação. O que é a motivação? Se você fez algo na vida e deu certo, gostou, o cérebro diz: “faça de novo, para ter esse prazer novamente”. Tem uma região no cérebro chamada de sistema de recompensa, que usa um neurotransmissor chamado de dopamina – e quando se faz algo prazeroso, essa região enche de dopamina e vem a sensação de prazer.
Por isso, apresento aos estudantes uma lista de atividades de cada profissão, aleatoriamente, para que assinalem apenas as que lhe parecem prazerosas. Isso pode ser feito em casa, com a orientação de um adulto. Existe outra lei do cérebro que diz o seguinte: “entre dois caminhos a seguir, o cérebro prefere o mais prazeroso”. E ele vai apontar qual o seu caminho.
(*) – É orientador educacional do Curso Positivo, professor de matemática, psicólogo e autor do livro “Profissões: pais preocupados, filhos inseguros”.