Fernando Valente Pimentel (*)
Tornou-se redundante comentar a crise político-econômica brasileira, embora analisar suas consequências e danos que vem causando seja um saudável desabafo para quem enfrenta seus efeitos nocivos.
Dentre os mais prejudicados por essa nebulosa conjuntura nacional incluem-se os 420 mil pequenos empreendedores que fecharam as portas de janeiro outubro desde ano, quase três vezes mais em relação a todo o ano de 2014. A situação de nosso país, infelizmente, é mesmo grave. No entanto, é preciso pensar na longevidade das empresas e no amanhã, quando a tempestade dissipar-se no horizonte.
O Brasil e o mundo já enfrentaram adversidades, em maior ou menor escala, como o grande crash de 1929, a recente crise internacional de 2008 e aqueles horríveis ciclos de megainflação em nosso país. Todas essas situações foram superadas, apesar de cada uma delas deixar sequelas marcantes. Agora, quando vivemos uma das mais graves situações de nossa história, não será diferente: a turbulência passará. A velocidade com que isso acontecerá dependerá muito das definições relativas ao quadro politico, mas a retomada do crescimento virá!
No enfrentamento da crise, há variáveis sobre as quais a sociedade não tem controle, como as políticas públicas e as decisões adotadas pelo Governo Federal e o Congresso Nacional. Podemos e devemos, sim, reivindicar medidas, sugerir alternativas, criticar os equívocos e manter permanente diálogo com as autoridades na busca de soluções. Nesse sentido, tem sido relevante a mobilização das entidades de classe representativas dos setores produtivos.
Porém, não temos o poder final sobre as decisões, e muitas delas, para infelicidade geral desta Nação, têm sido contrárias ao bom senso e ao consenso da sociedade, dos empresários e dos trabalhadores.
Assim, além de insistir na legítima mobilização política, no exercício cívico das proposições e de utilizar com sabedoria o poder transformador do voto a cada eleição, é preciso, neste momento de aguda dificuldade, trabalhar com as variáveis sobre as quais temos maior controle e poder de decisão.
Refiro-me à gestão das empresas, nas quais, felizmente, não trabalham os protagonistas das presentes desventuras brasileiras. Assim, por mais que seus equívocos possam prejudicar e impactar as companhias, eles não interferem diretamente nas nossas decisões. Aí, o jogo é dos trabalhadores-empregadores brasileiros (sim, os empresários também são trabalhadores).
E são poucos os que têm a sua capacidade de superação, criatividade, resiliência às dificuldades e coragem para enfrentar crises e empreender, conforme já se demonstrou em numerosas oportunidades, no contexto da historicamente instável economia de nosso país. Tanto assim que, apesar dos governos, construímos um dos maiores PIBs do Planeta.
Alguns empresários têm até encontrado a alternativa de investir fora do Brasil, mas é hora de cuidarmos muito bem das empresas, buscando reduzir custos, ampliar a eficiência, obter ganhos de produtividade e investir em tecnologia e inovação. Aporte de capital num cenário de incertezas e baixo nível de atividade econômica, com crédito escasso e juros elevados, pode parecer insensato. Contudo, cada um saberá a medida certa e o momento adequado para fazer isso.
O importante é pensar e agir com eficácia no aprimoramento das empresas, pois a crise certamente passará, mas os negócios persistirão. Quem estiver bem preparado para a retomada do crescimento sairá na frente quando o Brasil recuperar-se dos problemas atuais. A crise é um grande mal, mas é efêmera e passará. Os negócios, contudo, precisam ser perenes!
Nesse sentido, as entidades de classe, assim como fazem na mobilização política em defesa de cada segmento e da economia nacional, desempenham papel importante. São polos de conhecimento, disseminadores de informação, depositários e catalisadores de experiências e boas práticas e promotores de eventos importantes para dinamizar o mercado, apresentar inovações e criar oportunidades de negócios. No âmbito de cada setor de atividade, é decisivo o foco nas empresas e no mercado como um todo.
Vamos sobreviver e vencer!
(*) – É o diretor-superintendente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit).