Flavio A. D. Zambrone (*)
Pela primeira vez, a OMS reconheceu a relação entre o vírus e os casos de microcefalia.
Órgãos reguladores de vários países e diversas entidades científicas de todo o mundo revisaram os estudos realizados sobre a segurança dos herbicidas 2,4-D e glifosato e chegaram à conclusão de que eles não causam malformações, como a microcefalia. Estes organismos incluem a Health Canada, a Agência de Proteção ao Meio Ambiente dos Estados Unidos (EPA) e a Autoridade Europeia de Segurança Alimentar (EFSA). Estes produtos são utilizados em centenas de países, todos com tradição agrícola, incluindo o Brasil.
Há um amplo conhecimento sobre a toxicidade do 2,4-D e do glifosato em relação ao desenvolvimento e reprodução em mamíferos de laboratório, que são modelos mais adequados para medir efeitos potenciais em seres humanos. Esses trabalhos incluem estudos sobre o desenvolvimento de ratos e coelhos e estudos de toxicidade reprodutiva em ratos. O 2,4-D e o glifosato não induziram o aparecimento de microcefalia em nenhum desses estudos, nem ocorreu nenhuma evidência de toxicidade para o desenvolvimento ou na reprodução. As doses usadas nesses estudos excederam os níveis de exposição de seres humanos em várias ordens de magnitude.
As evidências disponíveis não apoiam a tese de que o uso do 2,4-D e do glifosato pode ser a causa dos casos recentes de microcefalia no Nordeste brasileiro. No dia 28 de novembro, o Ministério da Saúde confirmou por meio de nota a relação entre o vírus Zika e o surto de microcefalia na região, com base no resultado de exames realizados em um bebê, nascido no Ceará.
O Ministério confirmou o resultado do Instituto Evandro Chagas, que anunciou ter identificado a presença do zika vírus em amostras de sangue e tecidos deste bebê. A OMS confirmou esta hipótese. Em conjunto com a Opas, emitiu oficialmente um alerta epidemiológico mundial para que se estabeleçam medidas de diagnóstico e acompanhamento de casos de Zika vírus. Pela primeira vez, a organização reconheceu a relação entre o vírus e os casos de microcefalia.
Concluindo, não se pode prover informações de saúde pública, sem comunicar o risco. Entretanto, estas informações devem sempre ser sustentadas por trabalhos científicos adequados e embasados. Informação correta traz segurança e ajuda. Especulações e ilações desprovidas de sustentação levam a atitudes equivocadas e que em nada ajudam a já combalida Saúde Pública brasileira.
(*) – É médico toxicologista, especialista em toxicologia pela Universidade de Paris e em saúde pública pela Unicamp ([email protected]).