Clareza e Certeza

em Dulce Magalhães
segunda-feira, 16 de novembro de 2015
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Há momentos na vida em que somos convidados a tomar decisões e rever processos

De tempos em tempos isso ocorre e vamos nos aperfeiçoando, mas volta e meia caímos na mesma angústia frente a decisões grandes e importantes.
O duro de uma escolha não é somente eleger o que queremos, mas abrir mão de tudo o que não foi escolhido. Então, para facilitar o processo fazemos lista de prós e contras, conversamos com amigos, mentores, especialistas, lemos a respeito do assunto, perdemos horas de sono revirando o tema na cabeça, voltamos a conversar com as pessoas mais diretamente envolvidas, e assim seguimos, nesse espremer, torcer e remoer, para ver se daí tiramos o suco da certeza.

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Dulce Magalhães
Filósofa, Educadora, Pesquisadora, Escritora e Palestrante. (www.dulcemagalhaes.com.br).

E a certeza não nos dá garantia de nada, é apenas um estado de alívio que nos tira da angústia, pois o mais difícil foi feito, que é tomar a decisão. O fato de alcançarmos a certeza não quer dizer que vamos acertar, nem que não haverá percalços. Absolutamente, não é esta a finalidade da certeza, mesmo que fosse o que mais desejávamos. A certeza é apenas o final de um processo de eleição, quando, finalmente, temos a confiança suficiente para dizer a nós mesmos que determinada opção é a melhor para nós neste momento.
Uma decisão baseada na certeza não nos isenta de nada, não nos garante nada, não nos protege de nada. E está tudo certo que seja assim, pois assim é a vida e seus caminhos. A certeza é apenas uma forma mais convicta de lidar com a dúvida, não de eliminá-la.
Sendo assim, buscar a certeza é natural, porém não é definitivo, nem nos libertará de todas as dúvidas ou dificuldades. Isso só a clareza poderá fazer e aí já é outra história. A clareza é fruto do insight, este estado de entendimento que não deixa margem a dúvidas e que denominamos de óbvio. É algo tão contundente que quando finalmente enxergamos ficamos surpresos de não ter percebido antes, pois não é a melhor das alternativas, é o caminho único e reto.
Óbvio é tudo aquilo que está oculto pela barreira de nossos paradigmas, de nossos modelos mentais, então olhamos a realidade pensando a partir de pressupostos sobre como deve ser, enquanto o óbvio está bem ali na frente dos olhos, mas não se enquadra em nossa definição e, portanto, não percebemos.
Contudo, o fato de ser invisível não quer dizer que não exista. Pergunte a qualquer pássaro que tenha atropelado uma vidraça. Somos atropelados pelos processos invisíveis, porém palpáveis da vida, e não temos a menor noção do que sucedeu. Ficamos aturdidos com os processos, as alternativas, as decisões, as múltiplas oportunidades e desafios, e não percebemos que esse aturdimento é porque acabamos de topar de frente com uma barreira de óbvio que ainda está invisível.
É só quando nos permitimos olhar sem querer enxergar o que achamos que deve estar lá, quando nos abrimos para a possibilidade de ver o que estiver na frente, seja lá o que for, é que enxergamos o óbvio. A certeza é fruto de um processo racional, de análise, de estimativas, de comparações e de pesar entre possibilidades que podem nos apontar o melhor padrão, processo, caminho ou método. Desta forma, poderemos chegar a algum nível de certeza.
Já a clareza vem do insight que é fruto da consciência, da percepção expandida, da intuição que nos permite saber mesmo sem conhecer. O conhecimento pode nos levar à certeza, é o caminho do entendimento racional, mas só a intuição pode nos conduzir ao insight, à percepção do óbvio, quando finalmente sabemos qual é caminho seguir, sem mais dúvidas, sem mais angústias.
O exercício intuitivo é o próprio processo criativo da vida, é dessa forma que renovamos o cabedal de padrões e nos liberamos para novas possibilidades de mundo. Se isso não parece óbvio é porque precisamos experimentar mais da intuição para perceber que as respostas já estão prontas, o mais difícil mesmo é formular a pergunta e se abrir para encontrar o que não está em nossa lista de visões e padrões. Talvez valha recordar um antigo e sábio conselho: há que ter olhos que veem e ouvidos que ouvem.

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Rebeca Toyama

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Coordenação: Lilian Mancuso e Rebeca Toyama