Corrado Vallo (*)
O fato é que a nossa pobre indústria está se esvaindo, tentando sobreviver.
Nesse momento de crise, a competitividade poderia dar ao país o fôlego necessário para equilibrar as balanças que são a fonte de preocupação de ministérios, bancos centrais, empresários e, por fim, se refletem na cadeia toda de consumo, indicador final do bem estar e satisfação de todos os brasileiros.
A nossa falta de competitividade está entranhada na vida dos brasileiros, começa com o apetite desmedido pelos juros elevados, os tributos elevadíssimos e sem a mínima correspondência em benefícios e o câmbio completamente fora de sua verdadeira grandeza. Além disso temos uma máquina estatal extremamente burocrática, uma falta de investimentos em educação e uma falta de investimentos produtivos, com incentivo constante impulsionado pela inflação ao investimento especulativo.
Não podemos deixar de mencionar a falta de uma visão de longo prazo das metas do governo bem como a falta de um maior incentivo governamental às empresas de tecnologia. Deve-se mencionar ainda o castigo imposto pelo governo à empresa nacional no que tange a financiamentos em longo prazo e a juros razoáveis por organismos como o BNDES à pequena e média empresa e o custo incompreensivelmente mais alto das matérias primas localmente.
Com juros extorsivos para quem precisa tomar dinheiro e convidativos para quem quer especular, logicamente neste caso a especulação ganha; para que investir com a SELIC de 14,25% se posso ganhar 20% especulando? Na Europa, por exemplo, é o contrário. Os “juros especulativos são 1 a 2%, mas o lucro gerado pelas empresas gira entre 8% e 10%. O termo competitividade está intimamente ligado ao termo produtividade, que por sua vez está ligado ao termo educação e ao desempenho do trabalhador, que no Brasil é baixo.
Por exemplo, minha produtividade não pode ser elevada se minha empresa produz 100 equipamentos por mês e meu concorrente no exterior produz 1000. Nestas quantidades reduzem-se os custos em toda a escala de produção, desde a compra dos materiais até a inatividade do pessoal. Além do mais, a produção de 1000 bombas no lugar de 100 obriga a investir em maquinário e métodos mais modernos, operando com linhas de produção mais eficientes para melhorar os resultados.
O fato é que a nossa pobre indústria está se esvaindo, tentando sobreviver. Há alguns anos atrás participávamos em 32% na formação do PIB, e hoje mal e mal chegamos a 12%. Nada fala mais claro do que este dado. O empresário hoje é o herói anônimo tentando sobreviver com sua indústria que vem vindo, talvez há gerações, e que se não houver transformações radicais na política atual, não irá sobreviver por muito tempo.
Além disso, a matéria prima que compramos é geralmente mais cara do que no exterior. Por quê? Por que, por exemplo, um quilo de ferro fundido deve custar mais no Brasil do que custa na Itália, que no final das contas importa o minério ou o ferro gusa do Brasil?
O fato é que se nada for feito, no túmulo da indústria brasileira, dentro de alguns anos encontraremos o seguinte epitáfio: “Aqui jaz a indústria brasileira que já foi florescente e que morreu por vontade governamental – Requiescant in Peace – Amem”.
(*) – É diretor presidente da Omel S.A e vice-presidente da ABIMAQ