Benedicto Ismael Camargo Dutra (*)
Em um artigo recente, o economista e professor João Sayad lembrou que Dom Pedro II, educado por José Bonifácio, foi o grande republicano brasileiro que acabou sendo derrubado para a instalação de uma república dominada por uma oligarquia de fazendeiros e depois, por sucessivos tipos de oligarquia que trataram o país como se fosse sua propriedade.
De fato, os governantes brasileiros raramente buscaram o progresso real, tendo primado pela economia de subsistência, despreparo, e transferência das riquezas para o exterior como no passado colonial. As cidades brasileiras cresceram caoticamente, sem escolas, sem esgoto, sem trato do lixo. O Brasil entrou na era da globalização sem ter adquirido o necessário preparo. Com a política cambial fora da realidade, passou a importar de tudo.
Devido à falta de seriedade e competência, a economia brasileira está perdendo espaço e retrocedendo. Causa estranheza a forma displicente com que as autoridades governamentais deixaram crescer o passivo. Qualquer administrador sabe que a constituição irresponsável de um passivo financeiro poderá levar o país à ruína. Por isso deveriam ter programado as suas contas e o desenvolvimento de tal forma que não cavassem um abismo para as suas populações nem caíssem na grande armadilha. Não faltaram advertências.
O que estamos vendo no Brasil é puerilidade, coisa de criança mal educada que se joga no chão do shopping-center até os pais fazerem o que elas querem. Mas os homens públicos já não são mais crianças, mas insistem em agir sem querer cumprir e assumir a responsabilidade pelo cargo no qual foram colocados. Julgando-se donos do país e do futuro, vão semeando ruína por pura arrogância e desfaçatez, a começar pelas contas da União. Como se chegou a essa calamidade nos Estados e nos municípios?
Em todos os setores nota-se a mesma irresponsabilidade com o futuro e gastos oportunistas. As estatais se transformam em feudos particulares. Um novo protocolo de privatização exigiria seriedade geral para impedir a entrega do patrimônio aos especuladores. O governo cederia o controle, mas permaneceria com uma parcela de ações preferenciais com a garantia do recebimento de dividendos para dar consistência ao caixa. A época é duplamente difícil, pela crise econômica e pelo apagão mental.
Nas escolas públicas dos anos 1950, os professores ensinavam e os alunos aprendiam, sabiam fazer contas e liam de tudo com boa compreensão. Poderia ter alguns defeitos, era uma questão de ir aperfeiçoando para a finalidade de formar seres humanos de qualidade, aptos a contribuir para o progresso do país. Mas desde os cursos implantados pela ditadura a partir de 1964, a situação só tem regredido.
O fundamental é que haja melhora no preparo das novas gerações, definindo-se o mínimo que elas precisam saber, pois estamos duplamente atrasados, tanto no bom discernimento da vida e lucidez no raciocínio, quanto no ensino técnico. A tendência ao desinteresse e emburrecimento deve ser revertida. O país e o planeta precisam de seres humanos com boa formação e visão da responsabilidade com o futuro, sempre visando a melhora geral.
Comparando o Brasil de hoje com o de 1915, percebemos que muitas coisas permanecem no atraso. Faltam metas claras que promovam a melhora. Governantes e empresários, estudantes e profissionais, todos precisam definir claramente os objetivos que pretendemos atingir e os passos a serem dados nesse sentido, usando a criatividade, o bom humor a perseverança. A melhora depende de cada um, da sinergia dos envolvidos, da força do querer de todos.
A esperança está nas novas gerações que precisam ser conscientizadas de sua responsabilidade com o futuro.
(*) – Graduado pela FEA/USP, realiza palestras sobre qualidade de vida. Coordena os sites (www.vidaeaprendizado.com.br) e (www.library.com.br). Autor de: Conversando com o homem sábio; Nola – o manuscrito que abalou o mundo; O segredo de Darwin; 2012…e depois?; e Desenvolvimento Humano ([email protected]).