A primeira transmissão do programa de TV, “Jovem Guarda” completou 50 anos. Foi em 22 de agosto de 1965 que pela primeira vez Roberto Carlos, Erasmo Carlos e Wanderléa subiam ao palco juntos
A proposta para a realização do programa surgiu a partir do final das transmissões esportivas ao vivo pela TV Record nos finais de tarde e se pensou em algo que pudesse arrebatar, assim como o futebol, uma grande audiência. A emissora procurou então, uma agência de publicidade, a Magaldi, Maia e Prosperi que ficou de bolar essa alternativa e o publicitário Carlito Maia, lembrou uma frase pronunciada por Vladimir Lênin que dizia, “o futuro pertence à jovem guarda”.
Decidiram assim, colocar em cena jovens artistas que já tinham alguma evidência no meio musical, há pelo menos dois anos, e depois de escolhas que chegaram a girar em torno de Ronnie Cord e Celly Campello, os preferidos acabaram sendo o cantor Roberto Carlos, lançado no Rio de Janeiro pelo disc–jóquei, Carlos Imperial e junto com ele Erasmo Carlos e Wanderléa.
O programa começaria no mesmo horário do futebol, às 16h00 e o lugar escolhido foi o Teatro Paramount, que já servia de auditório para outros programas da Record. O sucesso foi quase imediato com Roberto lançando no final daquele ano um long–play com o nome do programa, cujo carro chefe era a música “Quero que vá tudo para o inferno”, como que a promover a rebeldia da época.
O crítico musical Julio Maria entende que a Jovem Guarda foi o maior fenômeno da música pop ocorrido no Brasil até hoje. Para o colunista do Estadão algumas pessoas que antes criticavam o movimento o chamando de retrógrado ou alienado, hoje reconhecem que houve um equívoco. “Dizia-se, por causa da ditadura militar, que a Jovem Guarda não era contestadora, mas percebe-se agora que aconteceram mudanças no comportamento dentro de casa com a garotada ficando mais ousada ao pronunciar gírias como, ‘é uma brasa mora’, ‘barra limpa’, ‘é papo firme’.
Também houve revolução de costumes, especialmente por causa da mini–saia, marca registrada da época”, ressalta Julio Maria, analisando que do ponto de vista musical a Jovem Guarda trouxe inovações inegáveis. O programa se tornou líder de audiência e Roberto Carlos, passou a ser chamado de “Rei”. Ele entrava em cena com anéis em todos os dedos e medalhão de ouro no peito, dobrava uma perna, esticava o braço e anunciava: “Com vocês, o meu amigo Erasmo Carlos”, para o delírio da platéia. Seu parceiro também ganhou um apelido, “Tremendão”, e Wanderléa, “Ternurinha”.
Aos domingos, a Av. Brigadeiro Luiz Antonio, onde ficava o Teatro Paramount, era ocupada por centenas de jovens que, logo após a hora do almoço, buscavam de algum modo entrar no teatro para assistir as apresentações. Havia outros artistas convidados: Sérgio Murilo, Agnaldo Rayol, Martinha, Rosemary, Renato e seus Blue Caps, Os Golden Boys, The Jordans, Trio Esperança, Ary Sanches e os Vips, entre outros. O programa era assistido em outros Estados com atraso, em videoteipe, porque não havia transmissão por satélites como hoje e no Rio de Janeiro, uma versão carioca, ao vivo, passou a ser feita pela TV Rio, durante a semana com a direção de Carlos Manga.
Outras emissoras passaram a promover programas semelhantes. Wanderley Cardoso, Vanusa e Jerry Adriani, por exemplo, se apresentavam na TV Excelsior, enquanto que Os Incríveis, Eduardo Araújo, Sérgio Reis e Silvinha na TV Tupi. A própria Record criou um concorrente: Ronnie Von que não foi colocado no mesmo programa com Roberto e Erasmo. Deram a ele o codinome “Príncipe” e um programa exclusivo, “O Pequeno Mundo de Ronnie Von” onde ele cantava e apresentava outros artistas em início de carreira entre os quais Caetano Veloso e Os Mutantes.
Mas a fórmula não iria durar muito e no final de 1967 o próprio “Jovem Guarda”, começou perder audiência com o IBOPE apontando o “Programa Silvio Santos” como o novo líder das tardes de domingo. Roberto foi avisado que a sorte do programa estava selada, mas ficaria para sempre o carinho todo especial por aquele espaço na televisão, conforme a música “Jovens Tardes de Domingo” que o próprio “Rei” gravaria anos depois.
Roberto Carlos faria suas despedidas do “Jovem Guarda”, em 17 de janeiro de 1968 prometendo voltar na programação da Record em um horário noturno. O programa continuaria ainda, mais algumas semanas, comandado por Erasmo e Wanderléa, mas todos sabiam que de fato o sonho começava chegar ao fim. O Jovem Guarda, entretanto, sobrevive nas lembranças daqueles que viveram a época.
Em 22 de agosto último, o radialista Antonio Aguillar promoveu uma festa comemorativa dos 50 anos aos participantes do movimento musical da Jovem Guarda, no Clube Homs, completamente lotado de fãs. A banda “The Clevers” acompanhou os artistas que fizeram, cada um deles, uma breve apresentação. Antes o grupo apresentou “Era um Garoto que como Eu amava os Beatles e os Rolling Stones”. Depois vieram Nilton Cesar, Jerry Adriani, Dick Danello e Ed Carlos que relembrou a mini guarda. Também se apresentaram Martinha, Claudio Fontana, Claudio Roberto, Cyro Aguiar, Jonas Backer, Os Jovens, Ary Sanches, Deny e Ronald, finalizando com Cauby Peixoto, um dos primeiros cantores brasileiros a gravar um rock, cuja gravação, de 1957, se chama “Rock em Copacabana”.
Para fechar a festa, Wanderléa, aplaudidíssima, apagou a velinha dos 50 anos e todos cantaram “Parabéns a você” no êmbolo da banda “The Clevers”. Foi uma grande emoção para Antonio Aguillar, ainda ativo aos 86 anos, com seu programa de Jovem Guarda aos domingos na Rádio Capital. O público que compareceu ao Clube Homs certamente retornou feliz para casa.
Jovens Tardes de Domingo
(Roberto Carlos – Erasmo Carlos)
Eu me lembro com saudade
O tempo que passou
O tempo passa tão depressa
Mas em mim deixou
Jovens tardes de domingo
Tantas alegrias
Velhos tempos
Belos dias
Canções usavam formas simples
Pra falar de amor
Carrões e gente numa festa
De sorriso e cor
Jovens tardes de domingo
Tantas alegrias
Velhos tempos
Belos dias
Hoje os meus domingos
São doces recordações
Daquelas tardes de guitarras
Sonhos e emoções
O que foi felicidade
Me mata agora de saudade
Velhos tempos
Belos dias
Velhos tempos
Belos dias
Hoje os meus domingos
São doces recordações
Daquelas tardes de guitarras
Flores e emoções
O que foi felicidade
Me mata agora de saudade
Velhos tempos
Belos dias
Velhos tempos
Belos dias
Velhos tempos
Belos dias
(Vejam só em que festa de arromba
Outro dia eu fui parar
Vejam só em que festa de arromba
Outro dia eu fui parar
Vinha voando no meu carro
Quando vi pela frente
Na beira da calçada
Um broto displicente
Mas, vejam só em que festa de arromba
Outro dia eu fui parar
Vejam só em que festa de arromba
Outro dia eu fui parar)
(*) Geraldo Nunes, jornalista e memorialista, integra a Academia Paulista de História. ([email protected]” data-mce-href=”mailto:[email protected]“>[email protected])