Ricardo Martins (*)
Levantamento da Serasa Experian demonstra que mais da metade das 7 milhões de empresas brasileiras estão endividadas, ou seja, você não é o único.
Cerca de 3,8 milhões de empreendimentos estão com dívidas em atraso, o que representa 54,3%. Desse total, 9% são indústrias. A dificuldade em manter em dia os compromissos financeiros, evidentemente, está relacionada à atual estagnação da economia, queda na produção industrial, inflação alta e sucessivas elevações das taxas de juros. Neste momento de crise econômica, muitos empresários estão dilapidando seu patrimônio para pagar dívidas. Não é o ideal!
Se o endividamento da sua empresa está igual ou superior a três faturamentos, chegou a hora de você lidar com a inadimplência de forma estratégica para manter a saúde financeira de seus negócios.
Resolver as pendências financeiras requer planejamento e determinação. Se nada for feito para eliminar as dívidas, o crédito da sua empresa poderá ser cortado e isto tornará mais complicado o caminho para a estabilidade futura. O primeiro passo para eliminar débitos é saber quanto e para quem se deve. Elabore planilhas de contas a pagar e a receber, comissões sobre vendas, estoques, fluxo de caixa e capital de giro. Anote todas as dívidas da empresa e verifique de quanto dispõe para pagar as obrigações.
Separe-as por categoria: bancária, trabalhista, tributária, fornecedores, prestadores de serviços. Priorize as dívidas mais antigas, as que ofereçam risco ao negócio, as mais caras e aquelas que envolvam a perda de crédito junto às instituições financeiras. Considere juros, taxas e multas. Agende reuniões com os credores e prepare-se para as negociações. Se não puder pagar a dívida inteira de uma só vez, negocie com o credor o pagamento a prazo, com redução de juros e condições facilitadoras.
Pense bem antes de recorrer a empréstimos bancários. Só assuma compromissos com bancos e financeiras, se puder cumpri-los. Se a empresa já está endividada com outras instituições, será difícil obter novos financiamentos. Consulte novos credores. Sua empresa pode estar pagando um preço muito alto pelos juros bancários e o endividamento pode se tornar impagável. Se a sua dívida tem juros robustos, troque por um credor com prazos maiores e taxas menores.
Verifique a capacidade de pagamento real da empresa, postergar a quitação do débito ou não cumprir com o combinado pode ser pior do acumular contas sem tentar um acordo. Só negocie se estiver certo de que poderá pagar a dívida, sem prejudicar a produtividade da empresa. Um dos perigos para o devedor empresarial é a possibilidade de travar as atividades do negócio. O empresário deve procurar os fornecedores antes de atrasar os pagamentos. Também procure reduzir o prazo do seu estoque. Com uma previsão melhor de demanda é possível determinar volumes mais adequados para a produção e reduzir o nível de estoque.
Ao otimizar os processos de compras e produção, escoando o que foi produzido just in time, estende-se os prazos de pagamentos dos fornecedores e o fluxo de recebimentos se antecipa. Considere estabelecer parcerias, até mesmo com concorrentes, seja para a terceirização de etapas produtivas, processos operacionais, logística ou distribuição. Procure fazer compras conjuntas de insumos, matérias-primas e serviços. Compras coletivas têm maior poder de barganha na hora de negociar preços e prazos.
Com essas dicas, veja se é possível livrar-se do fantasma da inadimplência Por que dilapidar o patrimônio de seu negócio, construído a duras penas, se é possível gerir o endividamento de maneira estratégica, negociando prazos, juros e taxas sem deixar sua operação paralisar?
(*) – É diretor do Ciesp/Leste e diretor de Relações Internacionais e Comércio Exterior da Fiesp. Também é vice-presidente do Sindicato Nacional das Indústrias de Trefilação e Laminação de Metais Ferrosos ([email protected]).