Eduarda Tolentino (*)
Enquanto muitos setores da economia sofrem com a falta de vagas de trabalho, na construção civil o cenário é outro. O segmento é um dos que mais empregam no Brasil, sendo uma das bases da economia. Somente no primeiro semestre de 2024, foram gerados mais de 100 mil novos postos.
No entanto, o problema aqui muda de lado: a falta de mão de obra qualificada para as vagas. E eu te confirmo: se você perguntar para 10 construtoras, as 10 dirão que seus desafios passam pela busca de pessoas para o trabalho.
. Impactos da falta de mão de obra – A falta de profissionais qualificados nos empreendimentos imobiliários tem um impacto direto tanto no cronograma quanto nos custos das obras. Atrasos são comuns, já que trabalhadores menos preparados tendem a cometer mais erros, resultando em baixa produtividade e retrabalhos.
Sem mão de obra capacitada, tarefas simples demoram mais para serem concluídas, o que prolonga o tempo de execução das etapas do projeto.
Além disso, a dificuldade em preencher posições-chave, como mestres de obras, engenheiros, eletricistas e encanadores torna ainda mais difícil manter o andamento das atividades. No aspecto financeiro, o impacto também acontece.
A escassez de mão de obra faz com que a oferta de salários mais altos seja uma das únicas estratégias para atrair trabalhadores especializados, o que alavanca custos de folha de pagamento. Assim, a gestão de obras se torna uma tarefa complexa, exigindo ajustes constantes em cronogramas e orçamentos para tentar compensar os desafios gerados pela falta de mão de obra.
. Motivos da falta de mão de obra – Na busca pelos porquês da dificuldade em preencher as vagas, deparamo-nos com alguns pontos importantes. Entre eles, impossível não citar a falta de qualificação. Muitos trabalhadores ingressam no mercado sem o treinamento técnico necessário, o que resulta em uma força de trabalho menos preparada.
Outro ponto que atinge o tendão de Aquiles das empresas construtoras é o desinteresse de parte dos jovens pela área. Com o boom da tecnologia na última década, áreas ligadas a outros setores têm feito os olhos das novas gerações brilharem. Ainda mais se levarmos em conta a exigência física que a atuação em uma obra pede.
Dessa forma, a força de trabalho está envelhecendo — o que aumenta o número de aposentadorias e, consequentemente, faz crescer a demanda por novos profissionais.
. Antídotos contra a falta de mão de obra – A primeira coisa que você precisa ter na sua empresa são pessoas capacitadas. Então, a principal estratégia deve ser o investimento em qualificação de quem já veste a camisa da companhia. Abriu uma nova vaga? Pense em quem já faz parte da equipe e pode ser promovido para novos desafios.
Se precisar, contrate treinamentos especializados para o seu time. Isso faz com que os colaboradores se sintam valorizados e, de quebra, tapa possíveis buracos na estrutura organizacional. Outra alternativa que percebo nas estratégias das companhias do setor é a aposta na mecanização e na industrialização da construção.
O uso de componentes pré-fabricados e métodos de construção modular permite que partes da obra sejam executadas em fábricas, onde as condições são controladas e reduzem a necessidade de mão de obra qualificada no canteiro.
Essa é uma opção interessante, porém nem todas as construtoras têm caixa suficiente para aportar nas últimas novidades que aparecem. Nesses casos, o arroz com feijão bem feito funciona. Ou seja, focar em oferecer melhores condições de trabalho, como remunerações competitivas, jornadas mais equilibradas e benefícios trabalhistas, a exemplo de assistência médica e planos de carreira bem estruturados.
A falta de mão de obra qualificada é um desafio digno da perda de sono dos construtores. Mas, assim como todo problema, há uma solução. Não dá para dizer que existe uma única alternativa, mas sim diversas. Por isso, é importante que cada empresa entenda o que faz sentido ou não para colocar em prática dentro da sua forma de trabalhar.
Só assim é possível criar um mercado cheio de talentos e com oferta e demanda equilibradas.
(*) – É CEO da BRZ Empreendimentos (https://www.brzempreendimentos.com/).