Thomas Gautier (*)
Nos anos 1990, o autor americano Daniel Goleman contribuiu para popularizar o conceito de inteligência emocional, revolucionando o dia a dia das lideranças nas empresas e da gestão de pessoas. Agora, com a necessidade de lidar com eventos climáticos extremos frequentes e suas consequências, precisamos de uma nova mudança nessas mesmas proporções.
E se passássemos também a olhar nossos talentos e organizações por meio da ótica de uma Inteligência Sustentável?
Uma coisa é ter metas ambientais. A outra é estar preparado para atingi-las. Uma liderança alimentada pelo espírito da Inteligência Sustentável é hábil na visão de perenidade dos negócios, das pessoas e do planeta. Negócios que, diante de transformações rápidas, não temam pivotar continuamente e se reinventar em função de novas necessidades – para se sustentarem e se manterem duradouros, ainda que se tornem diferentes do que eram no início.
Se um dos pilares da inteligência emocional é “conhecer suas emoções”, na sustentável é reconhecer o mundo que nos cerca para compreender a reação dele aos nossos impactos. Se outro pilar é “controlar suas emoções”, na Inteligência Sustentável precisamos identificar o quanto uma liderança está disposta a implantar ações eficientes por um lugar mais habitável.
Fazer da sustentabilidade, como na inteligência emocional, uma jornada em evolução incessante de autoconhecimento, e de conhecimento do ambiente.
Em um processo seletivo, o diretor da área de gestão de pessoas poderia solicitar ao candidato: conte uma situação em que teve que usar recursos de modo mais racional para reduzir sua pegada de carbono.
Qual o seu maior defeito na construção de um mundo mais sustentável? Tem alguma pergunta final sobre nossa atuação ESG? A inteligência verde mediria o quanto estamos aptos a construir relações saudáveis e a mobilizar os que estão à nossa volta na construção de hábitos seguros para a Terra.
Em vez de um QI, um QIs, ou Quociente de Inteligência Sustentável, que jamais estaria dissociado da inteligência emocional, uma vez que a dificuldade de eliminar ou mitigar riscos ambientais também pode ser um fator de estresse para as relações humanas.
A Inteligência Sustentável pode se beneficiar ainda de outra inteligência, a artificial, sem deixar de lado o componente humano para o bem-estar no planeta. No Brasil, de acordo com informações deste ano da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), a transição para a sustentabilidade pode gerar mais de 2 milhões de empregos até 2030, número equivalente quase à população de Fortaleza.
A Inteligência Sustentável não é propriedade de uma indústria. Faz parte de todas elas e é capaz de produzir resultados de impacto. Segundo a Associação Brasileira de Bioinovação (ABBI), o Brasil pode gerar US$ 592,6 bilhões a mais por ano com a Bioeconomia até 2050. Hoje já não se cresce mais sem Inteligência Sustentável. Entre as organizações brasileiras que desse destacam em inovação, a Natura conserva na Amazônia uma área comparável a 12 vezes a da cidade de São Paulo, com programas de educação e agrofloresta.
A Riachuelo lançou este ano uma coleção de moda circular, feita a partir do reúso de oito toneladas de resíduos têxteis de sua própria fábrica. Na Klabin, a substituição de combustíveis fósseis permitiu reduzir 67% de emissões de gases do efeito estufa para cada tonelada de produto fabricado, entre 2003 e 2021. Esses são apenas alguns exemplos de como profissionais que pensam dessa forma têm feito a diferença. Na sua empresa, com certeza eles estão fazendo também. Seja bem-vindo à era da Inteligência Sustentável.
(*) – É CEO do Freto (https://freto.com.br/Institucional/).